Como você reage quando sabe que alguém cometeu suicídio? Tem o grupo que condena imediatamente, se perguntando o dia todo como alguém pode acabar com o dom mais precioso que um ser humano pode receber: “Tanta gente aí lutando para vencer câncer e esse babaca se mata”. Tem o grupo que foca na família e pensa no desespero de quem perdeu alguém querido (e quem já perdeu um familiar, por morte de qualquer motivo, sabe como dói a saudade). Eu faço parte do grupinho que pensa muito na pessoa que se matou. A vida é, sim, cheia de altos e baixos, mas para quase tudo tem uma saída além de cometer suicídio. Eu uso a palavra “quase” aqui para estar ciente da minha ignorância sobre a vastidão do universo. Eu não passei por todas as experiências do mundo. Eu não sei – e não tenho vergonha de admitir – se não haveria um dia algo tão insuportavelmente dolorido na minha vida que me fizesse pensa a acabar com ela precipitadamente. É por isso que penso demais na pessoa que se matou. Fico imaginando o que passou pela cabeça dela para tomar uma atitude tão extrema. Certamente, não viu luz no fim do túnel. Provavelmente, estava passando por um problema que achava que não teria solução. E isso me dói especialmente. Dos corações partidos da adolescência a demissões depois do fim de um estágio, já passei por dores que considerei por alguns momentos que nunca iriam sarar. E sararam, porque quem disse que tempo cura tudo devia ser bem sábio. Pense agora em quantos problemas “insolucionáveis” você teve na vida e como lidou com eles. Tem gente aí que até vai abrir um sorrisinho e pensar: “Uau, e naquela época eu achei que meu mundo tinha acabado”.
Keep calm porque essa não é uma carta de suicídio online. Felizmente, nunca passei por algo tão extremo a ponto de pensar nisso. Espero nunca passar. Mas eu queria dizer que não julgo quem faz. Eu apenas lamento que a pessoa não tenha tido a clareza de perceber que talvez ainda deveriam existir pessoas que pudessem ajudar, que nem todas as alternativas teriam se esgotado. Olho esses casos de meninos jovens que se mataram com 11, 12 anos porque eram xingados na escola. A bagagem de vida deles, tão curtinha, fez com que não encontrassem outro meio de lidar com aquilo. Penso neles com grande tristeza. Vontade de estar perto, de abraçar e dizer: “Hey, eu tenho 36 anos e já passei por vários problemas cabeludos. Mas eu sempre soube que deveria existir uma solução e me foquei em procurar por ela. Tudo vai ficar bem, acredita em mim”.
Textinho sombrio para um começo de quinta, não é? Essa introdução tão forte foi feita para falar que, por mais bizarro, pecaminoso e cruel que seja a decisão de alguém, no fim das contas cada um é o responsável pela sua vida. Já te aconteceu de dar um conselho simples, claro, direto, básico e óbvio para alguém e a pessoa não seguir? Tipo um “amiga, esse cara só te trai, cai fora” e ela seguir com ele? Acontece. O julgamento final do que qual caminho pegar, no fim das contas, é dela.
Nos últimos anos eu descobri uma forma estranha de lidar com meus problemas, uma forma que nem todo mundo entende, mas que depois de tanto papo aí nos parágrafos acima, espero que pelo menos parem um instante e tentem analisar. Eu passei a escrever num blog o que acontecia comigo. Comecei com coisa boa, falando sobre meu casamento, como foi organizar tudo. Depois que ele passou, senti que tinha à minha volta uma comunidade de pessoas que me queriam bem e que já considerava amigas (com exceção de uma ou outra que me detestam, o que faz parte do jogo). Falar de um perrengue aqui e outro ali me fez ter um retorno que eu não tinha de pessoas muito próximas como meu marido, minha irmã, minhas amigas. Lembram do episódio do estresse crônico? Todo mundo que me ama estendeu a mão para me ajudar, mas eu senti mais conforto ao ler recados de pessoas que também passaram por aquilo e fizeram a gentileza de me dizer como foi e como superaram. Não tem preço. É um acalento para a alma, é um afago no coração. E é uma gentileza sem tamanho que alguém tenha parado alguns minutos em frente ao computador para confortar uma pessoa que nunca viu ao vivo. Bravo, bravo!
Me faz bem escrever sobre a minha vida. Me faz bem dizer coisas até bem particulares num fórum que está aberto aí na rede para quem quiser ler. Por que eu faço isso? Parte porque é como se tirasse um peso do coração fazendo o que mais gosto de fazer na vida (escrever, tanto que escolhi isso como profissão). Parte porque aquele tal retorno de “hey, vai ficar tudo bem” é impagável. E, finalmente, porque essa sou eu. A Gabi de 2008, que começou um blog sobre casamentos, definitivamente não é a mesma de 2014. A de 2008 achava que três ou quatro pessoas leriam suas histórias chatas obre como dobrar o guardanapo na festa de casamento. A de hoje celebra ter à sua volta gente que de vez em quando se materializa no supermercado, no parque, que te para no elevador para contar que te acompanha. E que gosta ou que divide de opiniões parecidas contigo. É como se amigos brotassem do chão como plantinhas. É por isso que adoro fazer encontros para conhecer gente, ver o rostinho de quem é meu amigo virtual. Como diria o Lulu Santos: “me faz tão bem, me faz tão bem”.
Eu consegui dar uma breve explicação de como eu sou, de como vejo a vida e porque falo abertamente num blog sobre problemas que muitas pessoas guardariam para si mesmas? Espero que sim.
Com tudo isso dito, me sinto à vontade para dividir um outro episódio da minha vida. Depois do meu casamento, muita gente começou a me cobrar para ter um bebezinho. Justo, né? Tenho 36 anos e está mais do que na hora. A chegada do pequeno está nos meus planos com o Marcelo, aqueles mesmos planos que a gente faz a longo prazo, que incluem trocar de carro ou apê, adotar mais um cachorro, largar tudo e fazer mochilão pelo mundo. Já estamos na fase “no pílula”, testando para ver quando é que Deus vai me mandar meu pacotinho. Sei que tenho a torcida de muitos para que seja em breve, mas juro, de todo meu coração, que acredito que será na hora certinha, aquele timing que só Deus sabe quando é, que às vezes a gente não entende, mas depois de um tempo descobre porque foi tão rápido, tão demorado, tão fácil, tão doloroso, tão sei lá o que. Como é mais fácil ver a solução dos problemas uns dias depois de eles acontecerem, né?
Vou abrir mais um capítulo da minha nada interessante vida aqui. Pelo motivo que expliquei ali em cima: me faz bem. Na semana passada, eu sofri um aborto espontâneo. Foi bem na semana da chegada do meu afilhado lindo, perfeito, presente divino, amorzão da vida de sua dinda. Foi algo bem no comecinho da gestação e eu sequer sabia que estava grávida.
Respondendo uma série de questões num tiro só: é mais comum do que a gente imagina, acontece por uma série de motivos (os meus estão sendo devidamente investigados), eu posso engravidar de novo (a princípio não há nada errado comigo). O sangramento fora de hora assustou – e muito – mas como eu ia dizendo ali em cima, foi na semana na chegada do Bernardo. Eu tinha a opção de escolher entre me acabar em choro por algo que o médico já tinha dito que acontece bastante ou me concentrar em mandar boas vibrações para a Bárbara. Escolhi um misto dos dois. Abracei a tristeza por 5 minutos (era sobre isso que eu me referia no post de ontem no FB), falei claramente comigo mesma sobre como aquilo era corriqueiro e como eu deveria ficar contente por poder engravidar de novo quando quisesse. No dia seguinte, nasceu perfeito o Bernardo. Qualquer resquício de dúvida que eu tinha sobre como realmente estava me sentindo naquela semana passou quando peguei ele no colo. Senti um amor sem fim, vontade de proteger, felicidade pela minha sobrinha (gente, tem pessoas aqui perguntando se a Bárbara tem 16 anos. Hahhahaha, não, ela tem cara de piá, mas tem 24). Bazinha e Bê eram mais importantes.
Contei para minha mana só depois do netinho dela nascer feliz e bonitão, para minha mãe e para uma ou duas amigas no trabalho, que precisavam entender minha ausência. Hoje, faz uma semana do que aconteceu e me sinto tranquila para dividir aqui nesse mundão que é a internet e ouvir relatos de almas legais que queiram me contar suas experiências. É como um Alcoólicos Anônimos: ouvir histórias de gente que venceu um problema não te anima a seguir em frente? Eu venci estresse crônico e contei aqui que para tudo tem jeito. Agora, estou contando outra história de vida.
Estou bem. Mesmo. De saúde e de cabeça. Mas eu sou blogueira (não me atreveria a dizer que sou escritora), e blogueiros gostam de escrever, se sentem bem com isso. Foi essa minha motivação para colocar o note no colo e escrever esse longo post, sem nenhuma figurinha ou fotinho, antes de ir me vestir para ir trabalhar.
Todo dia a gente aprende um pouquinho, né? Eu estou vivendo um ano lotado de experiências extremamente engrandecedoras, que, boas ou ruins, me ajudam a entender o sentido da vida e escolher o caminho a tomar. É claro que, se pudesse, deletaria o aborto dessa listinha de episódios, mas ele veio para me ensinar alguma coisa. Já tenho uma leve suspeita do que, mas irei consolidando minha opinião nos próximos dias.
Não precisa fazer beiço, abraçar no corredor e chorar ao me ver (aconteceu direto quando a Bellinha morreu). Ao contrário daquela vez, eu estou realmente tranquila. Divido aqui porque sou uma mulher que conta mimimis na internet. E eu sei que existem outras Gabis por aí no mundo. Toquem aqui, gurias! Estamos juntas, acontece e a vida segue. Só ter uma vida já não é presente suficiente? Eu acho que sim.
Uma linda e abençoada quinta para vocês,
Gabi

Para não dizer que não tem nenhuma fotinho nesse post. Bazinha e Bernardo mandam beijos. Estão ótimos! A Bárbara manda dizer que ser mãe é a melhor coisa do mundo.
Pessoas amadas que deixaram recados