O episódio envolvendo as declarações do gerente de fiscalização de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Tarciso Kasper, escancara como Porto Alegre parou no tempo em conceitos de mobilidade urbana.
Ao desdenhar do interesse público pelo transporte coletivo e, indiretamente, estimular o uso de veículos próprios, a EPTC tomou a contramão de uma tendência recorrente em economias desenvolvidas ou em desenvolvimento. Deixar o carro na garagem faz bem para os próprios motoristas – afinal, significa trânsito menos pesado – e para o planeta, já sufocado pelas emissões de dióxido de carbono.
Porto Alegre poderia olhar adiante do próprio umbigo. Já há no Brasil empresas especializadas em compartilhamento de carros, sem falar em sites para agendar caronas. Nos Estados Unidos, criaram-se faixas específicas para veículos com mais de uma pessoa – quem circular sozinho leva multa. Em Londres, os Jogos Olímpicos vão ocorrer sem estacionamentos para os espectadores, salvo em casos especiais, como portadores de deficiências.
Os ingleses apostam no próprio transporte público, e aí reside uma boa lição para a EPTC. Em vez de dar desculpas, o órgão deveria aproveitar a oportunidade para estimular a população a andar de ônibus. E, principalmente, melhorar a infraestrutura disponível. Porque mandar trocar o ônibus pelo carro, seja ou não nas entrelinhas, torna ainda mais tênue a linha que separa a incompetência da omissão.