Nos últimos tempos, ver Lázaro Ramos na tevê tem sido certeza de menção a temas sociais. Em 2006, ele estreou em novelas como Foguinho, de Cobras & Lagartos, um malandro de bom coração que se apoderava, indevidamente, da fortuna alheia. Já em Duas Caras, o tom mais sério de Evilásio serviu para debater questões de preconceito racial.
– Não é que seja uma bandeira ou uma atitude política. Mas esse comportamento faz parte da minha formação. É como eu lido com o mundo, como artista – sintetiza ele, atualmente no ar em Ó Paí, Ó na pele de Roque, um aspirante a cantor que precisa “se virar” para sobreviver nas ruas do Pelourinho, bairro histórico de Salvador, na Bahia.
Não é coincidência, portanto, o fato de que também o semanal levante bandeiras. O próprio Lázaro reconhece a proximidade entre ele e o personagem, também vivido por ele no longa homônimo, dirigido por Monique Gardenberg e lançado em 2007.
O tom questionador, porém, não é razão para cara amarrada. Dono de uma carreira marcada por sucessos na comédia, o ator é a favor de deixar de lado a seriedade quase obrigatória quando se fala de assuntos como pirataria, dívidas bancárias e união homossexual.
– Não é que os temas não sejam tratados de forma incisiva. Mas eles ficam bem mais fáceis de engolir quando são abordados de maneira engraçada – argumenta.
Para ajudá-lo na empreitada, Lázaro tem contado coma ajuda do Bando de Teatro Olodum. Até há pouco desconhecidos na televisão, os atores do grupo mantêm-se firmes no posto de ídolos do colega famoso.
– É impressionante contracenar com eles. O Bando tem um tempo de comédia que é espetacular e que não é dado por nenhuma edição – valoriza.
Inicialmente vinculado ao bloco de carnaval Olodum, o Bando é conhecido por iniciar candidatos a atores nos meandros das artes dramáticas, através de diversas oficinas – algumas, gratuitas.
– A base do grupo é artística como poucas. Eles são autores também, criam espetáculos. Às vezes, uma orientação deles na abordagem de um personagem muda completamente a visão que tenho dele – garante Lázaro, que deu seus primeiros passos profissionais
no grupo.
Foi também com o Bando que o ator aprendeu a debater a questão do preconceito. Mesmo com um mercado ainda pouco receptivo a atores negros – tanto na dramaturgia quanto na publicidade –, Lázaro diz que consegue enxergar melhoras na relação entre a tevê e os negros.
– Tive oportunidades de usar os espaços que foram abertos para propor essa discussão – comemora.
Lázaro até desmistifica, com ar tranqüilo, a condição de epítome do “ator-negro-bem-sucedido”, por ter conquistado espaço na mídia, elogios da crítica e boa receptividade dos telespectadores.
– Claro que fico feliz quando leio uma crítica positiva. Só que a consciência da realidade do meu país me faz tomar uma postura diferente – diz.
Postado por TV+Show, Diário Catarinense