“A doença é a zona noturna da vida. ”
Susan Sontag
“O álcool e uma tênue familiaridade com o perigo têm sido as únicas coisas que me dão força para recomeçar a cada manhã. O que eu não sabia é que esses recursos também vão se esgotando. O álcool só serve para manter uma efêmera razão de viver. O perigo se desvanece sempre que nos aproximamos dele.”
Relato de um homem, branco, 48 anos, pós cardioversão por arritmia cardíaca induzida por intoxicação alcoólica aguda
RUI PEIXOTO*
A incorporação do conceito de risco é a melhor maneira de se obter uma ação preventiva na prática médica.
Assim, por exemplo, se toda a população fumasse uniformemente não teria sido possível detectar o papel do fumo na causa do câncer de pulmão. Na época dos estudos populacionais, a proporção de fumantes era 40% dos homens adultos, valor percentual que permitiu observar as diferenças de incidência e mortalidade. E o álcool?
Na França, a dieta com alta concentração de gordura, acompanhada do consumo de vinho é associada à baixa mortalidade por doença coronariana. Esta observação estimulou o estudo Paradoxo Francês, sobre os componentes químicos do vinho, responsáveis por esse fenômeno. A maioria dos investigadores, afirma também que os mesmos flavonoides presentes em vegetais, frutas e cereais têm o mesmo efeito cardioprotetor. A dieta francesa é rica em ômega 3, 6, 9.
O estudo do Royal Free School of Medicine de Londres examinou os efeitos individuais da cerveja, vinho e outras bebidas alcoólicas sobre o coração e a mortalidade por todas as causas. Durante um período de 16,8 anos, 7,7 mil homens com idade entre 40 e 59 anos foram acompanhados clinicamente. Entre os usuários de cerveja e outros aguardentes,
o consumo regular moderado reduziu os eventos coronarianos, mas não alterou a mortalidade por todas as causas. Os consumidores de vinho, tinham riscos mais baixos para a doença coronariana e também para a mortalidade por todas as causas.
A pesquisa, observou que os consumidores de vinho tinham um estilo de vida mais saudável, ou seja, menos obesos, menos fumantes e com níveis mais altos de atividade física. Sendo o estilo de vida o fator preponderante na redução das doenças coronárias.
O contraditório ao estímulo do álcool na prevenção de doenças: 18 em cada 100 brasileiros são dependentes, o hábito de beber em crianças e adolescentes não para de crescer, 40% das consultas psiquiátricas e 39% das ocorrências policiais são devido ao alcoolismo.
No efeito benéfico, usando o Paradoxo Francês com dieta rica em flavonoides, ômega 3, 6, 9 ou então usar os resultados do estudo do Royal: vinho ou cerveja de uso moderado, mas com estilo de vida saudável, ou seja, prevenindo os fatores de risco coronariano: obesidade, fumo, estresse, colesterol elevado, hipertensão arterial, diabete e vida sedentária.
* Médico cardiologista