A partir desta edição, os leitores estão sendo apresentados ao novo selo ZH Transparência, que encabeça esta página. Parte da programação dos 50 anos do jornal, a iniciativa vai explicar aos leitores as motivações e os fundamentos de decisões e procedimentos editoriais que possam ser considerados controversos. A primeira destas iniciativas é dissecada na página ao lado: a postura de ZH e dos veículos da RBS em relação à Copa do Mundo.
Ligada umbilicalmente à liberdade de informar, a transparência é uma tendência global, acentuada pelos próprios meios de comunicação que pressionam por maior e melhor acesso a fontes e registros de interesse público e, ao mesmo tempo, revisam suas próprias convicções e práticas internas diante da nova realidade. Tais procedimentos incluem o encorajamento à participação, o convite a outros para que se posicionem sobre temas centrais da atualidade, o engajamento no imenso fórum de discussão que é a internet, o reconhecimento da diversidade e de visões múltiplas, a incorporação cotidiana e ativa de práticas como correções, esclarecimentos, acréscimos e mudanças de atitude.
A mídia não chegou sozinha a esse novo posicionamento. Contribuíram para a afirmação dessa cultura, que ainda está em processo de consolidação, episódios como o do Wikileaks e o escândalo do jornal britânico News of the World, alvo de processo criminal por utilização de grampos ilegais, entre outros. Jornais e jornalistas não podem continuar se comportando como se vivessem no início do século 18 e fossem combatentes únicos e iluminados da liberdade de informação e expressão. É preciso reconhecer que aqueles devotados à apuração e à difusão de notícias acumulam sua própria cota de erros e desvios, muitos deles resultantes do processo inerentemente imperfeito de apurar e processar informações em andamento. Admiti-los, corrigi-los e esclarecê-los não diminui o veículo. Ao contrário, reforça sua credibilidade junto à opinião pública.
A história de Zero Hora, que completou 50 anos no dia 4 de maio, é também a história da sucessiva adoção de práticas e medidas que reforçam a relação de credibilidade e transparência com seus leitores. Depois de 1970, quando a família Sirotsky passou a comandar o jornal, ZH foi se distanciando dos partidos e do poder econômico e aprofundando sua independência, a base da relação transparente com todos os seus públicos.
Um exemplo destes avanços: em 1994, ZH foi o primeiro jornal do Rio Grande do Sul a adotar um Manual de Redação, Ética e Estilo, na esteira das melhores tendências da mídia mundial. Também foi o primeiro do país a editá-lo em livro e tornar público seu código com o intuito de ter suas práticas acompanhadas e cobradas pelos leitores. Posteriormente, o guia foi sendo atualizado, em particular pelo impacto da Era Digital, até se transformar no atual Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística. Entre os itens introduzidos nesse regramento está o compromisso com a publicação de correções e esclarecimentos, com o equilíbrio consubstanciado na prática de ouvir o outro lado e com a pluralidade de opiniões. Ainda nos anos 90, nomes, telefones e, mais tarde, e-mails de editores e repórteres passaram a ser publicados diariamente. No final da década, surgiu o Conselho do Leitor, decisivo para que o jornal debatesse seus procedimentos e decisões diretamente com representantes de seu público. Já nos anos 2000, o surgimento de zerohora.com foi um novo marco na relação com os leitores e usuários, abrindo novas frentes de debate, questionamento e colaboração.
Em meio à preparação de um amplo processo de mudança no jornal por ocasião de seu cinquentenário, ZH recolheu entre leitores a percepção de que o jornal deveria explicar com mais nitidez algumas de suas decisões e posturas. ZH não tem a pretensão de inibir vozes dissonantes com esta iniciativa. Ao contrário, o jornal considera questionamentos e contestações um processo não só natural como saudável a um meio de comunicação assentado sobre a relação de confiança com seus leitores. É isso que se faz a partir de agora com o novo selo Transparência ZH.