JAYME EDUARDO MACHADO
Jornalista, ex-subprocurador-geral de República
Alguém já disse existirem duas áreas do desenvolvimento em que as inovações geniais só aparecem espaçadas pelo intervalo de séculos: as colunas, que são o fundamento da arquitetura, e as instituições públicas, colunas que sustentam o Estado.
Oscar Niemeyer aproveitou seu século de vida para inovar, concebendo aquelas colunas sinuosas do Palácio da Alvorada. De “… ritmo contínuo e ondulado, que conferem à construção leveza e elegância”, como explicava. Tomava forma aos olhos do mundo a novíssima capital do “Brasil, País do Futuro”, previsão do escritor alemão Stefan Zweig, em livro publicado na aurora dos anos 40.
À espera do milagre, o povo brasileiro financiou o sonho de Juscelino: a capital do futuro, equidistante de tudo e de todos os “brasis” era, na concepção da estética e na localização da geografia, a metáfora perfeita da renovação que certamente viria. Enfim, o arquiteto produzira uma revolução na forma das colunas que sustentam os prédios das nossas instituições público-políticas, cumprindo-se a primeira da parte da observação lembrada logo na primeira frase.
Quanto à segunda parte, parece que a nossa democracia ainda está à espera da inovação genial. Uma novidade capaz desintoxicar o país do vício da sobreposição do interesse público aos dos gestores privados. Do vício de satisfazer a ambição argentária das pessoas dos círculos governantes, dos políticos de suas alianças, dos indivíduos instrumentos do seu apego ao poder. Uma renovação que não delegue o controle da gestão das empresas públicas aos beleguins do partido hegemônico e aos esbirros de suas alianças de conveniência. Uma novidade que possa ser empossada com a convicção de que o seu discurso é coerente com a prática, e que reconheça que a responsabilidade é sempre de quem governa e não somente daqueles a quem se delega.
Quando isso acontecer, teremos como sustentar nossa democracia. Por ora, nos limitamos a contemplar, do exterior, a beleza da forma das colunas de Niemeyer. Paradoxal aparência dissimulando a fealdade do conteúdo erodido. Por trás delas se esconde a vergonhosa verdade que só aparece quando gestores negociam a própria torpeza mediante colaboração premiada. Ao gestor maior, uma certeza: a verdade perseguida pelos investigadores causa menos dano às empresas do que a mentira do seu controle. E um alerta: ou se fortalecem as colunas institucionais, ou a casa cai.