
NELSON MATTOS
nelson.m.mattos@gmail.com
Doutor em Ciências da Computação, gaúcho, residente no Silicon Valley, Califórnia
Hoje vamos abordar a terceira grande transformação causada pela Revolução Digital: a transformação da forma pela qual nos comunicamos. Sem a menor dúvida, a internet se tornou o meio de comunicação mais poderoso da história do mundo. Em 2014, 40% de todas as ligações internacionais foram feitas no Skype _ um aplicativo que permite que ligações e videoconferências sejam feitas de computadores, tablets, ou celulares através da internet. WhatsApp, um aplicativo para enviar mensagens (como SMS) por intermédio da internet, já possui 600 milhões de usuários ativos, enviando 27 bilhões de mensagens diariamente. Twitter, um serviço de rede social que permite a usuários enviar mensagens de 140 caracteres chamados “tweets”, tem 284 milhões de usuários ativos enviando 500 milhões de tweets todos os dias. Facebook, a rede social mais popular do mundo, já tem mais de 1.2 bilhões de usuários ativos, dos quais 757 milhões acessam o site diariamente. É impressionante que em tão poucos anos bilhões de pessoas passaram a usar a internet como o principal meio se comunicar. Isso sem falar dos 2.5 bilhões de usuários de e-mail e de mensagens instantâneas.
Obviamente, com essa mudança profunda, não só as pessoas, mas também empresas estão usando a internet como um novo meio de comunicação em massa. Praticamente todas as empresas têm uma presença no Facebook, muitas usam WhatsApp para se comunicar com seus clientes e fornecedores, uma grande quantidade faz ligações através do Skype e estão inclusive modificando seus processos e estratégias para aumentar sua fatia de mercado. Ferramentas sociais, por exemplo, permitem que tais empresas interajam com os seus clientes de uma forma muito mais pessoal. Já em 2012, Starbucks e Coca-Cola recebiam respectivamente 19,4 milhões e 22,5 milhões de visitantes em suas páginas no Facebook todos os meses. Pense nisso _ cerca de 20 milhões de visitantes por mês! Que mídia consegue atingir esse número de pessoas pelo custo mínimo de manter uma presença no Facebook? Isto está levando muitas empresas a repensar suas estratégias de relações com clientes e redefinir completamente suas formas de interagir com as pessoas.
Assim, não é de se surpreender que as empresas de tecnologia vejam a comunicação pela internet como algo estratégico, tentando permanecer na frente de seus concorrentes. Por exemplo, em maio de 2011, a Microsoft pagou US$ 8,5 bilhões pelo Skype e, em fevereiro desse ano, o Facebook desembolsou US$ 19 bilhões pelo WhatsApp.
E, se você acha que o uso da internet como meio de comunicação no mundo é impressionante, você deveria dar uma olhada no Brasil. Aqui o uso é muitíssimo maior! Na verdade o Brasil possui os internautas mais conectados do mundo. Os brasileiros estão muito mais conectados que os moradores de países onde a internet está bem mais desenvolvida como no Japão e nos Estados Unidos. Noventa e dois por cento dos internautas brasileiros estão conectados por meio de redes sociais _ um recorde mundial! Em países mais desenvolvidos economicamente, os internautas gastam muito mais tempo em sites de e-commerce, gastando muito menos tempo se comunicando em redes sociais. Além de mais conectados, somos também os mais ativos nos meios de comunicação da internet: 58% dos brasileiros passam a maior parte do tempo em redes sociais; 76% acessam redes sociais todos os dias e o pico de uso é às 20h, tanto nos dias úteis quanto nos fins de semana.
Certamente alguns já estão apresentando dependência das redes sociais. De acordo com uma pesquisa feita pelo Hospital de Clínicas de São Paulo, 8 milhões de brasileiros devem estar viciados no uso da internet. A dependência atinge 10% dos usuários de computadores e 20% das pessoas que têm smartphones, fazendo com que sejamos os maiores viciados na internet do mundo. Os números não negam: 51% dos internautas do Brasil passam conectados o dia inteiro. Essa taxa é duas vezes maior que a média nos Estados Unidos que é de 25% ou no mundo como um todo, que é de 28%.
Claro que devemos nos preocupar com aqueles que possam estar sofrendo com o vício em internet. Porém, não podemos entrar em pânico e sim aprender com o passado.
Quando a imprensa foi desenvolvida no século 15, as pessoas se preocuparam de que iria prejudicar o ensino e causar uma sobrecarga de informação. Pessoas morreriam tentando ler todo o material impresso. Críticos do telefone temiam que iria desvalorizar a interação social, e se preocupavam com conversas privadas sendo ouvidas. Quando o rádio foi introduzido, as pessoas temiam que isso iria expor as crianças a conteúdo não apropriado a elas e distraí-los de leitura.
Será que isso soa familiar?
Tais temores pareciam perfeitamente razoáveis quando essas tecnologias estavam sendo adotadas, mas, eventualmente, eles desapareceram à medida que as pessoas se adaptaram a utilizar essas tecnologias de forma saudável.
Embora devamos levar a sério qualquer forma de vício, e vício de internet não foge à regra, eu tenho certeza que a mesma evolução vista em tecnologias passadas vai acontecer com a internet. Afinal de conta, a internet já está amplamente adotada e seus benefícios são simplesmente muitos para voltarmos atrás. Assim como aconteceu com as tecnologias passadas, eu acredito que as pessoas irão aprender a utilizar a internet de forma cada vez mais positiva e útil. Isso é tão verdadeiro para os consumidores como é para a indústria e governos. Não há volta!
NELSON MATTOS ESCREVE MENSALMENTE NESTE ESPAÇO