O colapso no abastecimento de água em mais de uma dezena de municípios gaúchos num período próximo à virada do ano e de temperaturas recordes não tem como ser atribuído simplesmente ao aumento no consumo. Deve-se, de fato, à falta de planejamento e de gerenciamento de investimentos em volumes adequados no tempo certo. Por mais que as autoridades insistam no discurso de que esse será o último ano de escassez, por estarem em andamento projetos importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nessa área, a situação é inconcebível. Abastecimento de água potável é um serviço essencial para o qual não cabem explicações políticas, mas sim ações sintonizadas com eficiência.
O simples fato de o serviço ser prestado por uma estatal na maioria dos municípios gaúchos _ a Companhia Rio-Grandense de Saneamento (Corsan) _ não constitui explicação suficiente para o drama vivenciado por milhares de consumidores. Há estatais com elevado padrão de qualidade, inclusive nessa área. E, mesmo num município como o de Uruguaiana, onde o serviço foi privatizado, faltou água nas torneiras no mesmo período. Ainda assim, é óbvio que interesses políticos, numa área na qual o padrão de gerenciamento precisa ser técnico, complicam a administração no cotidiano e o planejamento de médio e longo prazo.
A sociedade tem pouco ou nenhum interesse em saber se um serviço básico como distribuição de água é prestado pelo setor público ou privado. O que importa mais aos gaúchos é saber se poderão contar com esse bem essencial em momentos que deveriam ser de comemorações e de relaxamento, não de estresse, como o da mudança de ano. Um problema dessas dimensões não tem como continuar se repetindo.