A vingança prometida pela Banda Uó em Shake de Amor chegou um ano depois de a música transformar o trio de Goiânia em hit da internet e revelação da MTV e conduzi-lo ao palco do Festival Planeta Terra. Não ser autor de uma única piada é a melhor revanche de um grupo que não tem medo do ridículo e usa o tecnobrega em canções grudentas, em que a sensualidade sugerida é um penduricalho do escracho iminente. Motel (Deck), produzido pelo Bonde do Rolê e com participação do DJ Diplo e da cantora Preta Gil, é essa salada de exageros, arranjos de gosto duvidoso, duplos sentidos e sentidos explícitos que devolve um pouco de diversão e sacanagem ao coxinha pop brasileiro. Se terá a mesma graça na segunda vez, é outra história. Melhor concentrar-se no presente e desfrutar a entrevista que Davi Sabbag deu à coluna/blog.
Vocês estouraram antes de ter um disco. Quais as pretensões agora, com ele pronto e lançado?
Davi Sabbag - Nossa pretensão era fazer um bom disco. Com a resposta do público e da mídia, nós conquistamos isso. Agora, queremos trabalhá-lo da melhor maneira possível, fazer bons vídeos, shows, aparições e conquistar cada vez mais espaço no cenário musical. É só o começo.
Existiu um cuidado por parte de vocês para não extrapolar no brega e no humor (que podem cansar)?
Sabbag - Existe, claro. Mas nossa intenção maior é não deixar nada muito óbvio, pensar fora da caixinha, sem regras, mas com um certo limite. Nossas criações são sobre coisas de que gostamos ou que achamos engraçadas. As pessoas se identificam porque é um pouco do universo de cada um também.
Alguma faixa tem um fundo de “baseado em fatos reais”?
Sabbag – Vânia é uma ficção sobre as histórias dos anúncios de acompanhantes de jornal, sobre mulheres sensuais que escolhem fazer do seu trabalho um grande prazer sexual. Tem algumas histórias que são homenagens, como Cowboy; outras são piadas entre amigos, como Castelo de Areias; e algumas são fatos reais, como I 3 Cafuçu, que conta a paixão da Mel por essa classificação de homem.
Cowboy é um eco do seu projeto folk com o Mateus?
Sabbag - Acho que sim, é um outro lado que ainda não tínhamos mostrado na Banda Uó. Pode se dizer que é o romantismo do folk com o exagero do brega.
Pelo visto, vocês são fãs da Rita Cadillac…
Sabbag - Sim, somos muito, principalmente o Mateus, que teve a ideia de fazer essa homenagem (a música Show da Rita). Ele tem um pôster de 2007 autografado. Amor eterno pela musa dos presidiários.
Chegaram a cogitar deixar Shake de Amor de fora?
Sabbag - Na verdade, queríamos muito (risos), mas a gravadora insistiu e nós deixamos.
Uma ilustração no encarte diz “feito pra te dar prazer”. Falta sacanagem na atual música brasileira?
Sabbag – O “feito pra te dar prazer” é o slogan que acompanha o nome do álbum. Sim, o mundo está muito careta, queremos de volta essa sacanagem, como antigamente, onde a TV aberta parecia um circo sem lona.
Em que sentido o Bonde do Rolê é um referencial pra banda?
Sabbag - Éramos fãs de Bonde do Rolê. Não acho que seja um referencial porque são propostas diferentes. Mas os meninos nos deram liberdade criativa, não nos limitaram e nem colocaram muitas restrições. Eles indicaram o caminho e isso foi essencial.
A banda vai batalhar uma carreira no exterior? O que vocês têm que pode atrair os gringos?
Sabbag - Nós queremos conquistar cada vez mais os brasileiros, esse é o nosso foco.
Existe um conceito no show de vocês? É que vendo os vídeos do Planeta Terra, parece uma bagunça em cima do palco…
Sabbag - O show hoje é todo coreografado, tem até bailarino (risos). Mas a bagunça tem que rolar. Quando nos divertimos no palco, as pessoas pegam o clima e fritam com a gente.
Vocês têm várias versões de músicas gringas. O próximo disco pode trazer mais delas?
Sabbag - Sei não, talvez. Ao universo nós pertencemos e só o futuro vai dizer. Namastê para todos!