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Não, o título do livro a ser debatido hoje à noite, a partir das 19h30min, no encontro mensal da Confraria Reinações Caxias, não está errado no cartaz ao lado. A obra é mesmo a novela Max e Os Felinos, do escritor gaúcho Moacyr Scliar. Mas aposto que muita gente, ao olhar para a imagem do rapaz e do felino num bote, pensa logo em A Vida de Pi, livro do canadense Yann Martel transformado no filme As Aventuras de Pi, que concorreu no último Oscar.
Embora esse não seja o foco do debate não seja esse, com certeza a polêmica da semelhança entre as duas obras não poderá ficar de fora. Inclusive a edição mais recente de Max e os Felinos pela coleção Pocket da L&PM traz uma introdução do autor comentando o assunto. Nela, Scliar conta que ficou sabendo do livro de Martel em 2002, quando uma jornalista lhe telefonou para que se posicionasse sobre o assunto, após A Vida de Pi vencer um prêmio na Europa.
Segundo o relato de Scliar, ele não se incomodou com o uso da ideia em si — um rapaz náufrago em um bote, após um naufrágio, tendo como única companhia um felino feroz —, mas sim o fato de não haver sido comunicado que ela seria reutilizada, além de seu livro não ter sido citado na outra obra (houve apenas um “agradecimento a Moacyr Scliar”). Martel ainda teria dito que estava fazendo bom uso de uma ideia mal aproveitada por um “escritor menor”.
Mesmo assim, e apesar de seu livro ser bem anterior — foi lançado em 1981 e saiu nos Estados Unidos em 1990, de onde provavelmente Martel ouviu falar dele —, o gaúcho não quis dar sequência à polêmica. O que importa, avaliou, é o livro em si, e, apesar de terem o mesmo ponto de partida, as histórias tomam rumos diferentes.
No caso de Max e Os Felinos, o protagonista é o Max do título, um jovem alemão que está fugindo do nazismo e embarca para o Brasil. O velho cargueiro no qual viaja leva também animais de um zoológico (outro ponto de ‘coincidência’ entre esse livro e A Vida de Pi, só que neste último o zoo é do pai do protagonista), e, depois de um naufrágio, Max se salva em um escaler, tendo por única companhia um jaguar (no livro do canadense, é um tigre).
“O texto de Martel é diferente do texto de Max e os Felinos. Mas o leitmotiv é, sim, o mesmo”, escreve Scliar na introdução.
Enfim, o debate desta noite promete. Para quem quiser conferir, o encontro da Confraria ocorre na Do Arco da Velha Livraria e Café (Rua Os 18 do Forte, 1.690), no centro de Caxias do Sul. A entrada é franca, e mesmo quem não leu o livro pode participar.