Se no Grêmio o técnico Mano Menezes foi reconhecido por armar estratégias competitivas e fortes defensivamente, conciliando a filosofia tática européia com a garra gaúcha, no Corinthians o treinador se adaptou ao perfil do clube. Mano conquistou a Série B em 2008 em um legítimo 4-4-2 à brasileira.
Primeiro, é bom recuperar o desempenho tático do Grêmio de Mano Menezes. No Olímpico, o treinador foi considerado um estudioso dos conceitos da Europa, transitando entre o 4-5-1 e o 4-1-4-1. Com ele, o Grêmio sempre privilegiou a compactação entre defesa e meio, valorizou articuladores com boa conclusão de média distância, e se amparou na presença de um atacante de referência – para ser a bola de segurança. Não é por acaso que os jogadores mais destacados na era Mano Menezes foram os meias que se aproximavam do ataque - como Hugo, Leo Lima e Diego Souza; e os meio-campistas mais defensivos, também com passagem à frente, como Lucas e Tcheco.
Mas no Corinthians, Mano Menezes preferiu não corromper a característica histórica do time paulista. O Timão de 2008 é uma equipe extremamente leve, rápida e ofensiva. O sistema tático é o legítimo 4-4-2 brasileiro, com meio-campo em quadrado. Os dois volantes sabem jogar (Elias e Cristian), assim como a dupla de articuladores (Morais e Douglas). Outra diferença em comparação com o Grêmio: não há centroavante de referência. No ataque, aparecem dois atacantes de velocidade e movimentação (Dentinho e Herrera).
Mesmo jogando com volantes sempre presentes no ataque, meias que lembram os antigos pontas-de-lança, e atacantes rápidos, Mano Menezes também liberou os laterais. André Santos, principalmente, pela esquerda; Alessandro um pouco menos, na direita. O Corinthians de Mano Menezes joga com a bola no pé, troca passes e apresenta um repertório vasto de movimentações sincronizadas – diagonais, trocas de função, aproximações, tabelas e abertura de espaços. A maioria dos gols surge de infiltrações pela área, e conclusões de média distância.
Mas, para não dizer que Mano Menezes abandonou completamente as origens, é bom destacar: o Corinthians é uma equipe abnegada na marcação. Talvez pela urgência do retorno à Série A, e pela característica dos jogadores – aliando velocidade e preparo físico – parece existir um pacto entre Mano e os atletas, algo do tipo “estamos no 4-4-2, temos dois meias e dois atacantes, os laterais passam…mas todo mundo tem que marcar!”. Sem a bola, os meias do Corinthians alinham com os volantes, formando duas linhas de quatro jogadores compactadas à frente da área, enquanto Herrera e Dentinho exercem pressão na saída de bola, forçando o adversário a sair pelos lados ou quebrar o passe.
Mano Menezes soube entender a característica do grupo, o perfil da instituição, e a exigência técnica do campeonato. Impôs a superioridade do Corinthians sem recair no defensivismo, como ocorreu algumas vezes no Grêmio. Agora, resta aguardar pela postura tática dele à frente do Timão com um grupo que provavelmente será reformulado, e contra os times de maior qualidade da Série A em 2009, para sabermos se a filosofia deste 4-4-2 bem brasileiro será mantida.
Postado por Eduardo Cecconi