Hoje parei para assistir ao clássico Real Madrid x Atlético de Madri, e fui privilegiado com um duelo tático moderno, ofensivo e corajoso. As duas equipes jogaram para vencer, criaram diversas oportunidades claríssimas de gol, e o empate em 1 a 1 muito bem poderia ter um placar de 8 a 8, ou mais. Foi um grande jogo pelo Campeonato Espanhol, disputado no Santiago Bernabeu.
Aqui no Preleção já havíamos analisado o Real Madrid dos “pés invertidos” – leia aqui. Mas sem Sneijder, e com o Barcelona disparando na frente, o técnico dos Merengues desfez seu 4-4-2 prioritário, iniciando a partida no 3-4-3.
O 3-4-3 é um sistema tático pouco utilizado, e por isso mesmo, surpreendente para o adversário. Acredito que no Atlético ninguém esperasse este posicionamento dos jogadores do Real. A defesa se armou com Cannavaro centralizado, na sobra; Sergio Ramos no combate pela direita, e Heinze pela esquerda. A linha de meio-campo teve Marcelo como winger esquerdo, e Lassana Diarra pela direita; Gago e Guti foram os volantes centralizados, o primeiro mais à direita, o segundo mais à esquerda.
Na frente, manteve-se a estratégia dos pés invertidos. O canhoto Robben foi um ponta pela direita, sempre trazendo a bola do lado para a entrada da área. O mesmo fez Huntelaar, jogando da esquerda para o meio. Centralizado, Raúl não foi um centroavante, mas sim um jogador de movimentação semelhante aos pivôs, recuando para atrair a marcação, abrindo espaço para as diagonais de Robben e Huntelaar.
Já o Atlético jogou em um 4-4-2 com praticamente duas linhas de quatro. Digo praticamente porque Maxi e Simão adiantaram-se mais do que o normal em relação aos companheiros centralizados de meio-campo (Camacho e Paulo Assunção). Mas não foi uma circunstância ocasional: a estratégia de mantê-los abertos pelos lados serviu para que o Atlético atuasse às costas da linha de meio-campo do Real. Com isso, eles atraíam os zagueiros Sergio Ramos e Heinze na cobertura, deixando Cannavaro delicadamente exposto à dupla Agüero e Forlan.
Dessa forma, o jogo manteve-se em altíssima rotação. As duas equipes foram absolutamente objetivas. Verticais. A meta de ambos era chegar ao gol, sem intermediários, sem enrolação. De um lado, o Real acionava Raúl no pivô, ou os pontas nas diagonais, contando ainda com o apoio dos wingers. Recuperada bola, o Atlético contragolpeava abrindo os wingers e infiltrando a dupla de atacantes, praticando um 4 contra 3 sobre os zagueiros merengues.
O primeiro gol surgiu de um entre os dezenas de contra-ataques verticais e incisivos do Atlético. Agüero disparou na esquerda, atraiu dois marcadores, a pelo meio entraram completamente livres de marcação ao mesmo tempo Forlán e Maxi. O argentino serviu ao centroavante uruguaio, que abriu o placar. Uma expressiva superioridade numérica do Atlético no campo do Real. A cena se repetiu diversas vezes, e não fosse a péssima pontaria do Agüero – algo raro - Atlético poderia ter encerrado a partida vencendo com larga vantagem.
Atrás no placar, o Real Madrid foi ainda mais ousado no 2º tempo. A partir dos 10min, o técnico armou uma espécie de 4-2-4. Saíram Heinze, Guti e Raúl, para as entradas de Higuaín, Salgado e Van der Vaart.
Com isso, o Real teve uma primeira linha com Marcelo e Salgado de laterais, Cannavaro e Sergio Ramos de zagueiros; no meio-campo, apenas Gago e Diarra. E na frente, uma linha de quatro jogadores posicionados sobre a defesa do Atlético, no mano-a-mano, eliminando qualquer possibilidade de cobertura: Van der Vaart aberto na esquerda, Higuaín e Huntelaar na entrada da área, e Robben aberto na direita. Funcionou: sem cobertura, a defesa permitiu que Huntelaar, alinhado com o zagueiro e às suas costas, recebesse livre (eu vi impedimento no lance) para empatar.
Essas distintas estratégias de ataque do Real e contra-ataque do Atlético fizeram do clássico madrilenho uma partida emocionante. Reparem nos números: foram criadas TRINTA E SEIS oportunidades de gol – 19 com o Real, 17 com o Atlético. Números que comprovam a alternância, ou seja, embora o Real insistisse no ataque (54% de posse de bola), praticamente toda investida Merengue contou com uma resposta do Atlético.
Este é mais um exemplo que vem da Europa, alertando que o defensivismo – para quem gosta de “moda”, e de citar referências do Velho Continente para justificar posturas demasiadamente cautelosas – está “demodé“. Hoje eu vi 3-4-3, 4-2-4, 4-4-2…sistemas táticos inteligentes, amparados em estratégias ofensivas. Na Europa, os treinadores querem vencer.
Postado por Eduardo Cecconi