Taticamente, nada mudou no São Paulo. Em 2009, o técnico Muricy Ramalho se repete pela quarta temporada. Não há nenhuma surpresa, nem variação incisiva, que apresente qualquer novidade. A equipe joga no mesmo 3-5-2 com o qual conquistou o tricampeonato consecutivo do Brasileirão.
Há, entretanto, algumas novidades proporcionadas por trocas na escalação. As contratações deste ano permitiram a Muricy Ramalho acrescentar qualidade sem mudar o sistema tático. E estes jogadores que chegaram são os responsáveis pela consolidação do “modo Muricy” de jogar. É um time com a cara do treinador.
As principais mudanças estão no lado esquerdo e no ataque. Se ano passado o São Paulo contava com um meio-campista na tática individual de ala – Jorge Wágner – hoje a equipe tem na função um lateral-apoiador de muita velocidade (Júnior César), lembrando o que fazia o xará Júnior há alguns anos no clube.
Ao lado dele, no meio-campo, Jorge Wágner passou para a articulação, saindo Hugo. E esta troca de dupla (Hugo-Jorge Wágner por Jorge Wágner-Júnior César) muda a maneira de jogar do São Paulo. Sem, é claro, alterar a estrutura tática convencional, pragmática e quase burocrática de Muricy Ramalho.
Com Hugo pelo meio e Jorge Wágner na ala, o São Paulo jogava centralizado. Hugo é um jogador vertical, que entrava nos espaços abertos pela movimentação de Dagoberto, tornando-se um segundo atacante de área. Sincronia que levava Jorge Wágner naturalmente para o meio-campo.
Agora, o time tem uma jogada de linha de fundo. Júnior César apoia com muita velocidade, e procura espaço para os cruzamentos. Jorge Wágner já não é um protagonista solitário, preocupando-se também em cobrir os avanços do novo ala, além de organizar com mais cadencia do que Hugo fazia. O time ganha velocidade pelo lado, e mais cautela (ou lentidão, como queiram) pelo meio.
Outra diferença foi citada: saiu Dagoberto, entrou Washington. O São Paulo joga com dois centroavantes. Por isso a presença de Júnior César pelo lado é mais coerente do que Jorge Wágner e Hugo trazendo a marcação para o meio, onde já estão os atacantes. O posicionamento é este: Washington recua para o pivô, arrastando consigo um ou dois zagueiros, e Borges avança às suas costas, para apanhar a segunda bola. Depois de girar, Washington também vai para a área, e a equipe ganha muita presença, por cima e por baixo, com os dois artilheiros.
Guardadas as devidas proporções – há uma abissal diferença técnica, incomparável – é um movimento semelhante ao que Celso Roth insistiu à exaustão ano passado, com Marcel recuando e Perea avançando. O problema é que esta estratégia pode causar alguma preguiça na equipe. Na falta de espaços, o time recorre à ligação direta, acionando Washington no balão e torcendo para o rebote cair nos pés de Borges. Como aconteceu com o Grêmio de 2008 - previsibilidade e falta de criatividade.
Quem compensa esse pragmatismo todo é Hernanes. Ele é cada vez menos um volante, e cada vez mais um apoiador, ou armador. Hernanes joga com a bola no chão, aproximando-se para o 2-1 com Washington, Borges ou Jorge Wágner. É ele quem distribui as jogadas da equipe. Na direita, Muricy mantém o drama de não contar com um ala – ontem, contra o Defensor, jogou Arouca, mas o titular é Zé Luís – ambos volantes que afunilam, e têm como principal função cobrir Hernanes, sem apoiar pelo lado ou pelo meio com qualidade.
Em comparação com 2008, o São Paulo tem pequenas variações (linha de fundo pela esquerda com Júnior César; cadência pelo meio com Jorge Wágner; pivô com Washington; segunda bola com Borges) dentro de um sistema tático mantido e afirmado. Nada mais lógico para uma equipe treinada por Muricy Ramalho. O São Paulo está ajustado, extremamente eficiente e competitivo. Conseguirá derrubar este adversário na Libertadores quem conseguir se aproveitar da previsibilidade do Tricolor.
Postado por Eduardo Cecconi