Eu pretendia, a pedido de leitores do blog Preleção, colocar em debate o sistema tático implantado por Zico no CSKA. Mas com a vitória do Shakhtar Donetsk por 2 a 0, eliminando os russos, achei mais conveniente falarmos sobre o time ucraniano.
Há algum tempo acompanho à distância o Shakhtar. A equipe joga no sistema tático 4-4-2, tendo como principal estratégia o equilíbrio de forças pelos lados. O time ucraniano apoia com a mesma força na direita e na esquerda, buscando a dupla de atacantes de referência com cruzamentos constantes.
Ontem, além dos massivos ataques por ambos os lados, o Shakthar também adotou como estratégia a marcação-pressão no campo do CSKA, adiantando os meias-extremos e os atacantes. Jogando em casa, e precisando vencer depois da derrota por 1 a 0 na Rússia, não restava outra alternativa.
Cabe ressaltar que Zico ajudou. Ele mantém no CSKA um sistema que utilizava no Fenehrbaçe em jogos decisivos – o 4-5-1, com apenas um atacante fixo, dois meias pelos lados, e três volantes (um centralizado e dois pelos lados), com defesa em linha. Para piorar, a estratégia é extremamente defensiva, com marcação recuada, muita distância entre os meias e o isolado Vágner Love, e total falta de ambição – reparem, quem puder, no segundo gol do Shakhtar. Eu contei na área do CSKA oito jogadores do time de Zico, mais o goleiro. OITO SE DEFENDENDO DENTRO DA PRÓPRIA ÁREA. Não podia dar certo.
O Shakhtar conta com o talendo de Srna, um meio-campista que atua como uma espécie de ala pela direita. Ele recebe cobertura do volante mais recuado para poder apoiar, em dobradinha com Jadson, o meia-extremo do setor. Pelo outro lado, quem apoia é Fernandinho, em excelente fase. Eles municiam na área Luiz Adriano e Gladkiy. Nesta formação, Marcelo Moreno, William e Ilsinho perderam espaço.
A comparação proporcionada pela estatística comprova o contraste entre uma equipe escalada e planejada para vencer, e outra destinada ao fracasso: o Shakhtar teve 63% de posse de bola, e criou 12 oportunidades de gol – concluindo 7 em gol, e teve 9 escanteios. Já o CSKA cauteloso de Zico manteve a bola consigo em apenas 37% do tempo, criou somente três oportunidades – com um único e mísero chute a gol, e teve 3 escanteios. O jogo se deu todo no campo do CSKA, que não teve saída qualificada de contra-ataque pelo espaço – reitero – entre as linhas recuadas e o único atacante.
Mais uma vez, o defensivismo sepulta a estratégia de um treinador brasileiro. O Shakhtar avança na Copa da Uefa, onde vai enfrentar o Olympique de Marselha. Vou acompanhar o desempenho desta equipe modesta, mas bem distribuída, e com alguns jogadores tecnicamente razoáveis, mas briosos – como o capitão Srna.
Como foi o primeiro jogo no qual realmente prestei atenção no Shakhtar, conto com a colaboração de quem puder trazer outras análises táticas do time ucraniano…
Postado por Eduardo Cecconi