Posso estar enganado, mas não lembro do italiano Fábio Capello armando alguma equipe no tradicional 4-4-2 britânico. Mas no comando da seleção da Inglaterra, ele é mais um treinador que se adapta à força da cultura tática do país, e adota o sistema das duas linhas de quatro jogadores. Assim como fez com êxito Rafa Benítez no Liverpool, por exemplo.
Assisti ao amistoso vencido pela Inglaterra por 4 a 0 contra a Eslováquia, no sábado, em Wembley. E a Inglaterra, em um insosso uniforme novo – não gostei do retrô escolhido pela Umbro – atuou no 4-4-2 britânico, de acordo com a maneira como cada jogador atua na maioria de seus clubes.
Capello escalou a equipe com dois wingers (meias extremos), e uma surpresa entre eles. Gerrard, que no Liverpool era apoiador centralizado, e agora joga como segundo atacante, foi o winger esquerdo, contando com Lennon na direita. Pelo meio, Capello colocou Barry à moda Scholes (mais defensivo), e Lampard à moda Lampard no Chelsea de Guus Hiddink. O camisa 8 da seleção, em outra atuação brilhante, foi o responsável pela articulação da equipe, aproximando-se com muita insistência da dupla de ataque.
Na frente, dois jogadores de velocidade e imposição física: Rooney e Heskey. Heskey acabou substituído por Cole, que também saiu para a entrada de Crouch. Rooney e Lampard foram até o fim, e deram no final da partida um fôlego à seleção inglesa, que não encontrava muitos espaços. Heskey abriu o placar aos 7min do 1º tempo, e a Inglaterra só foi marcar novamente aos 25min do 2º tempo, com Rooney. Nos minutos finais, Lampard e novamente Rooney fecharam o placar.
Posso ser considerado suspeito, porque sou fã de Beckham. Mas o jogador do Milan entrou no intervalo, substituindo Lennon, e demonstrou a velha categoria na posição onde surgiu no Manchester United. Beckham foi um competente e dedicado winger pela direita. Apoiou com qualidade, fez assistências e chamou Johnson para o apoio. Na comparação com o veloz Lennon, ainda sou mais Beckham na extrema direita da linha de meio-campo da Inglaterra, ainda que no Milan ele atue como um meia-marcador à frente do volante central.
Gerrard também saiu no intervalo, para a entrada de Downing – outro bom jogador. E dessa forma um assunto recorrente passa novamente pela minha cabeça: como uma seleção que conta com tantas alternativas de altíssima qualidade para o setor mais importante da equipe não emplaca? Quem hoje pode escolher entre Lampard, Beckham, Gerrard, Downing, Lennon…?
Talvez Capello consiga responder. Estava faltando à Inglaterra assumir sua vocação tática histórica. A seleção inglesa, no seu 4-4-2 britânico, recuperando a virtude de Beckham, valorizando o protagonismo de Lampard, e contando com as inspirações naturais de Gerrard e Rooney, pode enfim justificar em futuro próximo a expectativa de sucesso que costuma provocar.
Postado por Eduardo Cecconi