Estamos acostumados a debater aqui no blog Preleção sistemas táticos com desenhos de meio-campo geometricamente precisos: linha, quadrado, losango. Mas é evidente que existem outras possibilidades – e mais evidente ainda que estas mesmas equipes com formas definidas no setor apresentam variações. O Santo André, entretanto, parte já na formação original com um desenho alternativo às formas matemáticas.
O Santo André joga em um 4-4-2 que pode ser chamado, a grosso modo, de “desalinhado”. A estratégia se volta à valorização das virtudes de seus principais jogadores, em todos os setores. Assisti ao jogo contra o Atlético-MG (empate no Mineirão), ao segundo tempo da partida contra o Flamengo (derrota injusta, em casa) e a lances da vitória sobre os reservas do Coritiba, no Paraná. E gostei dos movimentos apresentados pela equipe treinada por Sérgio Guedes, ex-goleiro do Inter.
Com a bola, o Santo André varia as jogadas. Os laterais – Cicinho na direita, Gustavo Nery na esquerda – apoiam alternadamente, e com insistência. No meio-campo, o veterano volante Fernando é o cabeça-de-área à moda antiga, centralizado, fazendo a cobertura pelos dois lados. Logo à frente, ele conta com o auxílio do segundo volante Ricardo Conceição. Este jogador canhoto é o grande destaque da equipe no início do Brasileirão. Combina intensidade na marcação, e vigor para fazer o vai-vem, aproximando-se da área, criando alternativas para tabelas e concluindo de média distância.
Na “terceira linha” do meio, Marcelinho Carioca fica à direita, mas pouco participativo. O camisa 7 não se esmera na marcação, e tem como principal função distribuir o jogo, com seus tradicionais passes e inversões de lado precisas. Pela esquerda, mais à frente, o boliviano Pablo Escobar protagoniza os principais lances, com velocidade e certa habilidade. Escobar entra na área para concluir, movimenta-se pelos dois lados e infiltra-se com frequência.
Escobar e Antônio Flávio, o atacante de movimentação, costumam ainda trocar de posições. Sem a bola, o segundo recua para marcar a saída dos adversários, tornando-se um quinto jogador de meio-campo. Escobar avança, mas da mesma forma também tem uma importante função defensiva: é ele quem cobra o lateral-esquerdo Gustavo Nery, em socorro ao volante Fernando. Não raro se vê Escobar dando carrinho no lado esquerdo defensivo, sendo um lateral-esquerdo improvisado quando Nery vai à linha de fundo.
Nunes completa a equipe fazendo um belo pivô. Depois de boa campanha na Série B do ano passado pelo Bragantino, o jogador confirma as boas referências. Nunes se impõem fisicamente escorando o zagueiro para segurar a bola à espera das aproximações de Escobar, Conceição, Antônio Flávio, Marcelinho ou Gustavo Nery. Do pivô ele gira rumo à área, onde apresenta-se para a conclusão.
O que mais chama a atenção no Santo André é esta sincronia de movimentos entre os jogadores, planejada para suprir as carências de marcação de Marcelinho Carioca e Gustavo Nery. Sérgio Guedes quer contar com a participação deles no time titular, e para isso os outros atletas posicionam-se de forma “desalinhada”, e cumprem atribuições defensivas com esmero. Não sei se vai longe, se dará certo, mas vale a dica para quem gosta de análises táticas acompanhar o Santo André neste Brasileirão.
Postado por Eduardo Cecconi