Há um problema quando um técnico encontra um sistema tático ideal para o grupo de jogadores que comanda. Não deveria acontecer, afinal, a escolha do sistema certo é um bem, uma definição positiva. Mas algumas vezes isto ocorre: o engessamento. É tão grande o temor em desfazer a estrutura consolidade que o técnico não apresenta alternativas táticas. E isso tem acontecido com o Brasil.
Dunga acertou em cheio na escolha do 4-5-1 (ou 4-2-3-1) da Seleção Brasileira, com estratégia voltada ao contra-ataque. É o sistema certo para os jogadores que ele convoca. O Brasil tem conquistado títulos assim, e faz excelente campanha nas Eliminatórias. Mas, sempre que passa por dificuldades, ele resiste à ideia de variar. E não varia. Troca apenas nomes, sem alterar posicionamentos ou funções.
Isto se viu hoje na vitória sobre os EUA. O time norte-americano entrou obstinado em bloquear a saída pelos lados do Brasil. Em seu 4-5-1 com duas linhas de quatro e um volante entre elas (também chamado de 4-1-4-1), os Estados Unidos fecharam a combinação entre Maicon e Ramires na direita, e a parceria entre André Santos e Robinho na esquerda,
Com o bloqueio nas laterais, o Brasil se viu forçado a afunilar as jogadas. Com diagonais procurando o centro. Levando toda a marcação em direção a Kaká e Luís Fabiano. E, contra duas linhas compactadas, e mais um volante entre elas, jogar pelo meio é muito mais difícil. Os EUA induziram o Brasil a cair na malha fina da marcação. Deu certo.
E com a bola, os EUA variaram para o 4-4-2. Feilhaber empurrava o camisa 9 Davies para a frente, formando o não menos britânico 4-4-2 em duas linhas. Donovan pela esquerda e Dempsey na direita disparavam pelos lados, contando com eventuais apoios dos laterais. E Altidore foi o pivô “xarope” de sempre, mantendo a boa atuação que teve em toda a Copa das Confederações.
Dunga não tentou nada novo. Poderia, para abrir a marcação, forçar vitória numérica pelos lados. Quem sabe com Nilmar e Pato, fazendo um 4-3-3, já que perdia por 2 a 0. Poderiam sair Robinho e Gilberto Silva. O time alargaria o campo, descentralizaria as jogadas, aí sim abrindo espaço para as infiltrações pelo meio.
Mas Dunga, dentro das suas convicções, apesar do engessamento tático, conseguiu a virada para 3 a 2. Com jogadas que expõem outra virtude da Seleção Brasileira dele: a força física. O Brasil não tem vergonha de jogar bola na área. Toda a pressão brasileira do 2º tempo se concentrou em chuveirinhos. O goleiro fez dois milagres (um deles dentro do gol) em cabeçadas. Lúcio marcou o gol da vitória em escanteio. Os cruzamentos, sem espaço para chegar à linha de fundo, saíam da intermediária ou de faltas laterais/escanteios (bola parada).
A única jogada de bola no chão foi a do gol de empate, quando Kaká caiu pelo lado, confundiu a marcação centralizada e fez a única jogada concreta de linha de fundo, cruzando para trás.
É bom saber que o Brasil tem um sistema tático forte; é ruim constatar que não há variação. Mas é ainda melhor a convicção de que, dentro de suas próprias convicções, Dunga tem dado muita sorte. E aí o resultado derruba qualquer tese. O Brasil vai bem. Méritos do treinador.
Postado por Eduardo Cecconi