Há poucos dias já propus este debate sobre a Seleção Brasileira aqui no blog Preleção. Dunga encontrou êxito no 4-5-1, com dois volantes e três meias. Mérito para ele. Encaixou o sistema tático e a estratégia adequados ao grupo de jogadores que convoca. Mas demonstra certo engessamento quando parece evidente a necessidade de uma variação. Foi assim contra os EUA. Mesmo perdendo por 2 a 0, Dunga em nada alterou a maneira de jogar. Manteve engessados o sistema e a estratégia. Virou, conquistou a Copa das Confederações. Entretanto, o sufoco serve de alerta. É preciso ter uma variação pronta na manga. Treinada. E executada quando preciso.
O mesmo engessamento acontece com o Inter. Tite tem grande mérito na consolidação do 4-4-2 com meio-campo em losango. O Colorado cresceu de rendimento, conquistou o Gauchão, chegou à final da Copa do Brasil, lidera o Brasileirão. Tudo amparado na linha defensiva de quatro jogadores, com um lateral-base na direita; no volante centralizado; nos dois apoiadores marcando e avançando na segunda linha de meio-campo; no articulador centralizado; e no ataque veloz, com um aberto na esquerda, e outro mais centralizado.
Falta, entretanto, uma variação ao Inter. Uma, ao menos. E tenho dúvidas se esta ausência de alteração tática se deve à filosofia do treinador Tite, ou a alguma influência do departamento de futebol. Vale lembrar que no início da temporada, sem Edinho, Tite quis abdicar do 4-4-2 “diamond”. Tentou escalar um meio-campo em quadrado. Foi publicamente repreendido por Fernando Carvalho às vésperas de um Gre-Nal. A crônica se solidarizou ao presidente multicampeão. O Inter ficaria “faceiro” sem os três volantes. Olhem que absurdo – faceiro, ainda que com dois volantes.
Ontem, Tite foi vítima deste processo que transforma a boa base tática em engessamento. Sem Sandro, e precisando MARCAR TRÊS GOLS, o substituto escolhido foi o volante Glaydson. Eu, que há duas semanas acompanho os treinos do Inter no blog Pré-Jogo, posso aqui garantir que a entrada de Glaydson foi quase unanimidade entre os torcedores que se manifestaram. A filosofia do “anti-faceirismo” contagiou a opinião pública. Todos temiam sofrer gols sem o volante centralizado. Mas com ele o Inter levou dois gols – confirmando que o número de volantes não é diretamente proporcional à segurança defensiva. Parece uma lei: o Inter precisa jogar com três volantes. Mesmo que a partida exija a marcação de três gols. Um contrasenso notável.
Fui voto vencido no blog Pré-Jogo quando defendi a entrada de Andrezinho no lugar de Glaydson. Esta formação sugerida está no diagrama tático que ilustra o post. Um meio-campo em quadrado. Sem faceirice (conceito que eu repudio). O bê-a-bá do futebol. O básico. O feijão-com-arroz. Há quase três décadas o 4-4-2 em quadrado é o sistema tático mais convencional do Brasil. Dois volantes, dois armadores. Sem segredo, sem mistério.
Este 4-4-2 em quadrado poderia ter sido utilizado pelo Inter contra o Corinthians. Bastaria, para isso, não fixar Magrão ou Guiñazu como primeiro ou segundo volante. Ambos seriam volantes alinhados. A diferença, para o 4-4-2 em losango, seria a impossibilidade e apoio simultâneo. Hoje, eles abrem juntos pelos lados, resguardados por Sandro (ou Glaydson). Mas em quadrado, revezariam-se. Quando Magrão sai, Guiñazu recua e centraliza; e quando Guiñazu sai, Magrão recua e centraliza. Reitero: isso é o bê-a-bá do futebol. O básico. O feijão-com-arroz. Sem faceirice.
O time manteria-se equilibrado, e teria mais opções de articulação, com Andrezinho. Notem que Nilmar e Taison tiveram poucas oportunidades de gol ontem. Por quê? Porque o Corinthians marcou com a bola. Bloqueou o Inter jogando. Exigiu que Glaydson, Magrão e Guiñazu apenas combatessem, empurrando o trio para trás. Quando o Inter recuperava a bola, D`Alessandro estava marcado, isolado, e anulado. E quando os laterais não apoiam, os volantes estão recuados, e o articulador está marcado, o ataque não recebe bolas. Taison e Nilmar pouco concluíram porque a bola não chegou. Andrezinho poderia ter dado fim à sobrecarga de marcação em D`Alessandro.
Sei, isto é na teoria. Na prática, não se pode afirmar que no 4-4-2 em quadrado, com Andrezinho desde o início, o Inter teria sido campeão. Mas eu não estou aqui comentando o resultado. O blog Preleção se presta à análise do DESEMPENHO. E, precisando vencer, o 4-4-2 em losango já se mostrou previsível, e engessado no Inter.
É preciso encontrar uma variação tática que permita ao Colorado se libertar deste engessamento. Seja ela o 4-4-2 em quadrado ou outra, como o 4-3-3 que Tite usou no 2º tempo, e rendeu dois gols. O Inter tornou-se refém de uma belíssima base tática. E isto não deveria acontecer. Não há sistema irrepreensível. Mesmo que o 4-4-2 em losango persista como preferencial, seja a base, o Inter precisa urgentemente apresentar variações táticas que permitam à equipe surpreender adversários quando a partida assim exigir.
Postado por Eduardo Cecconi