Tecnicamente, há muitos anos – muitos mesmo – não se via um Gre-Nal tão nivelado por cima. Grêmio e Inter jogaram bem, com qualidade técnica, poucas faltas e equilíbrio tático. O “clássico do centenário” serviu para quebrar um estigma que muitas vezes nós mesmos vendemos, de que o Gre-Nal é violento, ríspido ou hostil. Hoje não quero ver matérias na TV mostrando carrinhos ou puxões de camisa. A partida tem lances de sobra para um compacto que não deverá nada a ninguém.
Com certo atraso – estava de folga e com o computador caseiro “na oficina” – trago ao debate os aspectos que pude perceber no Gre-Nal. E, como de costume, peço que todos os leitores contribuam com suas observações e análises. Vale destacar que no blog Preleção não há espaço para a polêmica vã, para a corneta inconsequente, ou para a troca de ofensas. Gremistas e colorados podem aqui conviver harmoniosamente, opinando sobre as próprias equipes e sobre os rivais, sem que seja necessário qualquer agressão. Comecemos pelo vencedor:
O Grêmio manteve a base tática do 4-4-2 quase alinhado de Paulo Autuori. E também apresentou novamente a intensa movimentação de seus meias, em perfeita harmonia de Tcheco e Souza, somando Adilson às jogadas em sincronia. Mas no primeiro tempo a equipe não conseguiu se ajustar à estratégia colorada, perdendo a posse de bola com inferioridade numérica pelo meio.
É uma questão matemática simples: no losango e com laterais defensivos, o Inter centraliza as jogadas e busca as infiltrações pelo chão, do meio para o lado. E o Grêmio faz o contrário – abre os meias e chama os laterais para o apoio. Na prática, pelo centro, o Inter tinha Guiñazu, Andrezinho e D`Alessandro, enquanto o Grêmio os continha apenas com Túlio e Adilson. Foi assim que a partida se estendeu em equilíbrio até o intervalo.
No 2º tempo, Autuori manteve Tcheco e Souza abertos, com a intensa troca de lado entre ambos, mas trazendo sempre um para o meio. Explico: Quando Tcheco abria com a bola, Souza centralizava; e quando Souza buscava o lado, Tcheco vinha para o meio. Em qualquer situação, Adilson ou Túlio passavam da linha. E aí houve o empate numérico em 3 a 3.
Autuori abriu bem Herrera, para jogar às costas de Kleber, contando com a assessoria de Mário Fernandes. Na esquerda, Fábio Santos apoiou quando pôde, sempre atento a Taison invertido em seu setor. Maxi jogou no pivô sobre os zagueiros, perdendo para Sorondo, mas obtendo vitória quando trocou e foi para o lado do Índio – assim nasceu o lance da bola na trave. Em resumo, o Grêmio jogou bem, com uma base sólida neste 4-4-2, e sincronia consistente de movimentos do meio para frente.
Com a liberação de D`Alessandro, Tite conseguiu desfazer a perspectiva da manhã de sexta-feira, e desistiu do 3-5-2. O Inter jogou no seu tradicional 4-4-2 em losango, com Andrezinho na armação, Nilmar e Taison na frente. Novamente, apostando nos contra-ataques, na centralização da armação, e nas infiltrações pelo chão às costas da defesa.
No 1º tempo, o time foi bem. Sempre com um jogador sobrando em vitória numérica, Andrezinho orquestrou o toque de bola. O Inter conseguiu manter a posse, e estabeleceu certo controle do meio-campo. O gol nasceu de um contra-ataque, dentro da característica principal do Inter de Tite: armação pelo meio, infiltração do centro para o lado em diagonal, com Nilmar às costas de Fábio Santos e Souza, após escanteio cobrado pelo Grêmio.
A principal novidade de Tite foi a inversão de lado do Taison (finalmente!). Mas com uma ressalva: embora Taison tenha passado da esquerda para a direita, foi pouco aproveitado no ataque. Ao invés de marcar com a bola, ele combateu Fábio Santos. Ou seja, deveria prender Fábio Santos atacando às suas costas, não apenas marcando quando o lateral gremista tinha a bola. Deveria ter acontecido o contrário.
Outra estratégia de contenção do treinador colorado consagrou uma grande partida do volante Sandro. Foi ele o responsável pela cobertura de Kleber, mantendo sempre um zagueiro na sobra. Herrera foi aberto por Autuori neste setor, mas não levou nenhuma vantagem sobre Sandro, que saía do meio para combatê-lo, liberando Sorondo para pegar Maxi, e Índio para a cobertura de ambos. Sandro foi muito bem neste movimento, que permitia a Guiñazu e Andrezinho cuidar dos meias Tcheco e Souza.
No 2º tempo o Inter recuou demais. Autuori consertou a movimentação dos meias gremistas, e sem a vantagem numérica do meio-campo, o Inter se preocupou demais em abrir campo para o contra-ataque. Estrategicamente trouxe suas linhas para trás e cedeu posse de bola, planejando acionar seus atacantes em velocidade. Não deu certo. Na insistência, proporcionou ao Grêmio as temidas chances em bola parada. Em um escanteio, Réver quase marcou. No outro, Maxi virou o jogo.
Os melhores
No Grêmio, aliando tática e técnica os melhores foram Souza, Adilson e Mário Fernandes. O primeiro, pela movimentação e qualidade na criação de jogadas, e pela grande importância na valorização da posse de bola após o 2 a 1. Adilson, pela marcação eficiente no meio campo e pela apresentação ao apoio nas diagonais passando a linha da bola. E Mário, que marcou com eficiência e aproveitou o espaço no setor de Kleber para surpreendentemente apoiar. Ainda é válido destacar o bom desempenho dos zagueiros Réver e Rafael Marques, vitoriosos em praticamente todos os lances de área.
No Inter, destaco Andrezinho e Sandro. O bom 1º tempo colorado deve-se principalmente ao controle de bola do meia Andrezinho, um organizador inspirado ontem à tarde. Ele ao mesmo tempo marcou e se aproximou de D`Alessandro. Deixou boa dúvida para Tite – será que Magrão deve voltar depois da partida de Andrezinho? Não entendi, inclusive, porque Andrezinho foi substituído. E Sandro comprovou que o time sentia sua falta, anulando Herrera na cobertura de Kléber, e marcando à frente da área com muito vigor. Tecnicamente, assim como na outra área, é bom valorizar o desempenho de Sorondo, contra quem Maxi López não levou vantagem nenhuma, obrigando o argentino a trocar de lado e ir para cima de Índio.
Pela soma dos dois tempos, e pelo comportamento das equipes, acredito que tenha sido um resultado justo. Principalmente no 2º tempo, o Grêmio mostrou que tinha “mais vontade”, e não falo de garra ou raça, mas de posicionamento adiantado, estratégia ofensiva, em comparação com o recuo colorado.
Postado por Eduardo Cecconi