Ontem, contra o São Paulo, o técnico Paulo Autuori abdicou das duas linhas de quatro no 4-4-2 quase britânico que aplica prioritariamente no Grêmio. E também desistiu das intensas trocas de posicionamento que levam Tcheco da direita para a esquerda, Souza da esquerda para a direita, e quando têm Douglas Costa, acrescentam o garoto a esta “dança de posicionamentos”.
O Grêmio se utilizou do 4-5-1, com posicionamentos fixos na segunda linha de meio-campo. Algo que eu já havia defendido no próprio 4-4-2 em duas linhas (fixar Souza na direita, Douglas Costa na esquerda, e manter Tcheco por dentro – no lugar de Rochemback, por exemplo; mas com dois atacantes à frente). Sem um atacante confiável na ausência de Jonas, Autuori optou por este sistema, e pela estratégia de interromper estas inversões dos meias.
Neste 4-5-1, que pode ser desdobrado em 4-2-3-1, Douglas Costa se beneficiou. Enfim pude assistir a um bom jogo do tão badalado jovem gremista entre os profissionais. Douglas jogou aberto na esquerda, sem concorrência de nenhum companheiro se sobrepondo a ele no setor, sem ter que trocar de lado, sem posicionar-se mais a frente e virar refém de zagueiros. Atuou como meia-extremo às costas do ala Jean, no 3-5-2 do São Paulo.
Douglas foi o melhor jogador do Grêmio, embora não tenha sido brilhante. Apesar da má noite técnica de Lúcio, quando o lateral-esquerdo avançava, indefinia a marcação são-paulina, afinal, Jean tem que “bater” com o lateral, mas tinha Douglas sobre ele também. Renato Silva precisava sair da área, no famoso efeito cascata do cobertor curto proporcionado pela ocupação de espaços deficiente do 3-5-2 brasileiro.
Outro beneficiado pela troca de sistema foi Tcheco. No 4-4-2 em duas linhas, Tcheco é um mau meia-extremo. Não tem duas prerrogativas essenciais da função: velocidade e mobilidade. O “winger” no sistema britânico precisa aprofundar as jogadas, vencer adversários em velocidade, chegar ao fundo. E Tcheco é um meio-campista central, armador, ou box-to-box, mas nunca um meia-extremo. Cadencia, dá ritmo, passa e lança, aproxima-se para concluir.
Centralizado, com Douglas à esquerda e Souza à direita, Tcheco só não produziu mais porque contou com marcação individual de Arouca. Vale lembrar que no 3-5-2 as marcações são individuais por função. Mas a de Arouca sobre Tcheco foi ainda mais intensa. Faltou no primeiro tempo os volantes do Grêmio perceberem que a segunda linha estava marcada, mas que eles – Túlio e Adílson – não tinham um perseguidor definido. Fato que se corrigiu no 2º tempo, com boas passagens de Adílson pelo lado, desmarcado. Ainda assim, Tcheco conseguiu articular a equipe com maior qualidade do que fazia no 4-4-2 em duas linhas.
Souza, por outro lado, não se destacou como meia-extremo pela direita. Participou pouco, perdeu lances no “mano-a-mano”. Esperava mais dele como um meia-extremo com posicionamento definido, pela direita, para aproveitar a velocidade e a qualidade técnica nos cruzamentos.
Com Tcheco marcado, volantes passando pouco, e Souza abaixo – apenas Douglas Costa tendo vitória – Maxi López ficou desabastecido. Piorou a situação a partir do momento em que Thiego falhou no gol de empate do São Paulo, e com um resultado teoricamente satisfatório, os visitantes permaneceram marcando e especulando, apenas preocupados em tirar espaços.
Ressalto que a falha de Thiego é comum, e reincidente – falta o técnico corrigir: ele dá espaço demais. Foi assim contra o Goiás, quando permitiu a Júlio César cruzar com tranquilidade o jogo inteiro. Talvez pelo “cacoete de zagueiro”, Thiego entra muito na área. Fecha na segunda trave quando a jogada vem da esquerda, ou apenas cede campo quando é no setor dele. Foi assim ontem, quando marcou a bola na segunda trave e deu espaço para Dagoberto, às costas, dominar e chutar. Erro de posicionamento.
Não estou convicto de que este 4-5-1 é o melhor para o Grêmio, na relação de custo-benefício com as características do elenco. Principalmente, quando Jonas retornar, ficará a dúvida sobre as vantagens deste sistema e do 4-4-2 em duas linhas. Na primeira opção (4-5-1), sobra Jonas – mas Tcheco e Douglas Costa atuam onde rendem mais; na segunda opção (4-4-2), sobra Douglas Costa, Jonas joga, mas Tcheco atua onde não se sai bem…
Postado por Eduardo Cecconi