O Rubin Kazan – clube que está próximo do bicampeonato russo, e que na Liga dos Campeões da Europa pode deixar Barcelona ou Inter de Milão de fora da segunda fase – ignora alguns conceitos quase unânimes da teoria tática: posse de bola e controle da velocidade do jogo. E, ainda assim, obtém êxito. Mais uma entre tantas demonstrações que evidenciam a distância entre futebol e fórmulas matemáticas.
Taticamente, o Rubin joga no 4-5-1 que pode ser desdobrado em 4-4-1-1. São duas rígidas linhas de quatro jogadores, mais um ponta-de-lança fazendo o enganche, e um insólito atacante isolado, porém não distante destas linhas.
O posicionamento inicial de cada jogador é extremamente recuado. A primeira linha finca-se praticamente no limite da grande área. E a segunda linha compacta-se já na intermediária do campo defensivo. São oito jogadores a poucos metros do gol.
À frente destas linhas destaca-se o talento do camisa 10, o argentino Dominguez, jogador que consegue promover a saída rápida para os contra-ataques. O Rubin depende muito da qualidade deste jogador, que alia velocidade e talento. Ele dribla, movimenta-se pelos lados, busca infiltrações, tem bom passe. Organiza e avança para concluir.
Pouco mais adiante há o atacante Gökdeniz. Ele também recua, e muitas vezes fica até mesmo mais atrás em comparação com Dominguez. Eu não ousaria contrariar alguém que eventualmente pudesse observar uma variação tática para algo parecido com um “4-6-0″, com duas linhas mais dois jogadores todos posicionados no campo defensivo.
A estratégia é bem clara: contra-ataque rápido. Além de Dominguez e Gökdeniz, o Rubin apoia com seus wingers – Ryazantsev na direita e Kaleshin na esquerda. Os laterais sobem raramente. O mesmo acontece com os volantes, marcadores obstinados em primeiro combater, para depois de recuperada a bola, fazer a transição entregando em passe curto a Dominguez, Ryazantsev ou Kaleshin.
Mesmo jogando em casa, contra o Barcelona, o Rubin teve apenas 25% de posse de bola. É quase nada. Uma posse praticamente restrita ao breve momento entre recuperação e transição ofensiva – o contra-ataque. Recua, compacta as linhas, posiciona-se com todos os jogadores à frente da área. Deixa o adversário controlar a posse, retirando-lhe a velocidade de execução e a objetividade.
Obstruídos os espaços, impedidas as infiltrações, o Rubin recupera e sai rápido. No Campeonato Russo, contra adversários menos qualificados, a equipe adianta essas linhas, mas ainda assim atua no 4-4-1-1. Contraria vários preceitos teóricos que eu defendo. Mas tem dado certo há duas temporadas.
Postado por Eduardo Cecconi