Rodada a rodada o Palmeiras demonstra que esgotaram-se as forças do seu 3-5-2 brasileiro. E, para minha incredulidade, o técnico Muricy Ramalho resiste a qualquer alternativa tática. Parece-me – não quero cometer injustiça, portanto aceito opiniões contrárias a esta observação – que Muricy está bitolado pelo “Muricybol”, este esporte diferente que ele inventou, baseado no futebol.
Contra o Sport Recife, ontem, o Palmeiras tentou disfarçar-se em um 4-4-2, mas não conseguiu. Na teoria, a equipe tinha uma linha defensiva de quatro jogadores (os laterais Figueroa e Armero, mais os zagueiros Danilo e Maurício) e um losango no meio-campo (Edmílson no primeiro vértice, dois volantes pelos lados – Souza e Sandro Silva – e Diego Souza de ponta-de-lança). Na frente, Ortigoza e Obina.
Mas, na prática, Edmilson logo se posicionou como um “zagueiro pela direita”, obstinado na cobertura de Figueroa. Ele saiu do posicionamento inicial (representado no diagrama tático pelo número 1 circulado) e passou a jogar como um guardião da lateral. Em dez minutos, o Sport marcou um gol – e, pasmem, por aquele setor ultra-protegido. Qual foi a primeira decisão de Muricy? Imediatamente, admitir o 3-5-2, levando Edmílson para a “sobra” (posição 2 no diagrama tático), escancarando seu predileto sistema tático. O falso 4-4-2 durou 10min.
Durante todo o primeiro tempo, o Palmeiras se repetiu: não teve posse de bola, não encontrou a marcação ideal, permitiu ao Sport dominar o meio-campo, controlar a partida. Graças à péssima ocupação de espaços, mostrou-se pouco criativo, apelando para a ligação direta com o ataque, em lançamentos longos, e sofrendo contra-ataques – um deles resultou no segundo gol. No segundo tempo, precisando da virada, armou um 4-4-2 em quadrado, e chegou ao 2 a 2 final.
Este é o estilo de jogo que eu parafraseio de um amigo do Twitter: o “Muricybol”. É um 3-5-2 com variação para 3-6-1 que ignora o meio-campo. A equipe tem três zagueiros e dois volantes recuados, dois alas bem abertos, e dois atacantes. Diego Souza, por ser alto e forte, é empurrado para a frente, induzindo a equipe à ligação direta pelo alto. Diego e Obina disputam, com a intenção de respingar a segunda bola para Ortigoza. Essa é a articulação no Muricybol, porque o meio-campo está abandonado. Má ocupação dos espaços.
Sei que Muricy é um técnico ultra-vencedor. Que suas equipes são competitivas, objetivas, competentes, aguerridas. Vencedoras. Mas praticam, no sistema 3-5-2 com estratégia de ligação direta, um futebol de qualidade baixa, feio, com desempenho ruim. Teoria que defendo mas, admito, não se sustenta pelos resultados conquistados por Muricy.
A possibilidade de derrocada do Muricybol neste Brasileirão pode estancar o retrocesso tático no Brasil. Afinal, os títulos conquistados por Muricy Ramalho endossam a disseminação do mesmo sistema, e da mesma estratégia, na maior parte dos pequenos e médios clubes. O 3-5-2 brasileiro, com marcação por função, ligação direta, e pouca criatividade, é modelo tático em qualquer competição brasileira.
O Brasil precisa que um novo modelo tático se torne vencedor. Para mudar a tendência, fazer o 3-5-2 brasileiro, o “Muricybol”, sair de moda. Para ajudar nossas categorias de base a formar novamente bons laterais e bons articuladores, funções que inexistem no sistema em vigência, e que portanto estão em processo de extinção. Nada contra a pessoa Muricy, nem contra o profissional dedicado e vencedor Muricy, mas permito-me respeitosamente discordar da filosofia tática com a qual ele – com títulos e méritos – contagiou nosso futebol.
Postado por Eduardo Cecconi