Em jogos de equivalência tática sem variações, é preciso que alguma característica técnica dos jogadores se sobressaia para confrontar o adversário. Senão, o encaixe tático arrastará qualquer partida ao empate sem gols. Pode ser improviso, drible, precisão no chute de média distância, qualidade na bola parada bem ensaiada…
Hoje, o Brasil se utilizou da velocidade de Nilmar como instrumento de desequilíbrio na rigidez tática do confronto entre Brasil e Inglaterra. Foi com as diagonais incisivas da esquerda para o meio que ele indefiniu a marcação inglesa, criando as melhores oportunidades – e marcando o gol – da vitória da Seleção Brasileira por 1 a 0, em partida amistosa.
Dunga manteve o Brasil estruturado no 4-5-1, seu sistema predileto, desdobrado em 4-2-3-1. São quatro defensores em linha, dois volantes guarnecendo a área, três meias ofensivos à frente, e um centroavante no pivô. E na Inglaterra, Fabio Capello também não abriu mão do ortodoxo 4-4-2 britânico, com duas linhas de quatro jogadores, um atacante recuando para fazer o enganche, e um centroavante no pivô.
Os posicionamentos iniciais de cada jogador das duas seleções criou uma situação de vantagem para as defesas. Em qualquer dos campos, venciam os marcadores.
No Brasil, Kaká foi combatido por dois volantes, variando a marcação conforme a zona em que ele ingressava. Foi anulado. Elano, burocraticamente, anulou-se sozinho, no embate com Bridge – que também nada acrescentou. Luís Fabiano, assim como Kaká, lutou contra dois marcadores, entre os zagueiros ingleses. Michel Bastos e Maicon bateram de frente com os wingers britânicos, e os volantes brasileiros não fizeram a passagem da linha para auxiliar Kaká.
Na Inglaterra, Rooney tentou jogar às costas de Gilberto Silva, mas acabou permitindo à dupla de zaga brasileira formar sempre uma sobra. O destro Milner, aberto como winger esquerdo, invariavelmente cortava para o meio, mas Bridge nunca aproveitou o corredor. Wright-Phillips foi pouco incisivo; Brown não o auxiliou no apoio pela direita. E os meio-campistas centrais Jenas e Barry fizeram o mesmo que os volantes brasileiros: muita preocupação com o posicionamento inicial, pouca ultrapassagem para indefinir a marcação.
Nilmar foi o único jogador que demonstrou interesse em aliar inteligência tática com a qualidade técnica que tem. Sua principal virtude técnica é a velocidade. E sua principal virtude tática é atuar sobre a linha defensiva, entre o zagueiro e o lateral, sem entrar em impedimento – foi assim que formou bela parceria com Alex recentemente no Inter, recebendo assistências de frente para o gol, nas infiltrações pelo chão.
Dessa forma, Nilmar buscou a diagonal, batendo o lateral-base Brown e partindo para o confronto direto com Upson. O que provocava a famosa indefinição da marcação, em efeito cascata: Upson deixa a sua zona de atuação, Lescott fecha, e a Inglaterra não sabia se combatia Nilmar e deixava Luís Fabiano livre, ou se mantinha a rigidez segurando o centroavante, mas liberava o ex-jogador do Inter. Nilmar fez gol, cavou pênalti, e participou objetivamente de todas as ações ofensivas do Brasil, sempre entre Brown e Upson.
Infelizmente, a Inglaterra jogou com seu “time B”. Não atuaram Ferdinand, Terry, Ashley Cole, Beckham, Gerrard, Lampard, Glen Jonhson, Lennon, Carlton Cole…Com todos os titulares, Capello manteria a mesma estrutura tática, mas a Inglaterra poderia agregar algo que lhe faltou hoje, e que o Brasil teve com Nilmar: qualidade técnica para desestruturar o equilíbrio tático.
Postado por Eduardo Cecconi