Marcelo Rospide assume pela segunda vez o cargo de técnico do Grêmio, interinamente, com o mesmo discurso: prosseguir com o mesmo trabalho do antecessor. Na primeira vez, cumpriu tão à risca a sequência ao legado de Celso Roth com seu 3-5-2 um tanto desarticulado, que chegou a ser chamado de “Rothspide”, tal a semelhança. Mas ontem contra o Cruzeiro, estreando no pós-Era Autuori, Marcelo Rospide mostrou mais recursos.
Ele sistematizou o Grêmio no mesmo 4-5-1 utilizado por Autuori no empate com o São Paulo. Tática que pode ser desdobrada no 4-2-3-1, com dois volantes, três meias ofensivos em linha, e um atacante centralizado. De início, ele partiu com Túlio e Adílson protegendo a linha defensiva; e na segunda linha, Tcheco pela direita, Rochemback centralizado, e Douglas Costa na esquerda.
Pela oferta de três volantes de origem, a opção pelo 4-2-3-1 contrariu a perspectiva anterior que eu tinha – de ver Rospide adotar o 4-5-1 desdobrado em 4-3-2-1 que o Autuori fez no Gre-Nal. Desenho caracterizado no Milan de Ancelotti como o “árvore de natal”, pelo formato em campo dos três volantes seguidos de dois meias e de um atacante. A alternativa escolhida era a mais adequada.
Mas essa formação durou pouco. Réver se lesionou, e Rospide não tinha zagueiros no banco. O treinador interino do Grêmio chamou Maylson, e com ele manteve o 4-2-3-1 com uma inteligente reorganização da equipe. Rospide passou Thiego para a zaga, Túlio para a lateral, recuou Rochemback para completar a dupla de volantes com Adílson, centralizou Tcheco na organização da segunda linha do setor e abriu Maylson como meia-extremo pela direita.
Com esta distribuição, o Grêmio passou a controlar a partida. O 4-5-1 com três meias não pode ter lateral-base. Ele sobrevive exatamente das triangulações pelos lados, entre laterais e meias-extremos. Com Thiego na base, o lado direito gremista estava morto. Com Túlio, que passou a apoiar, o Grêmio conquistou aquele setor. Túlio e Maylson criaram as melhores triangulações, reprisando o mesmo que faziam na esquerda Fábio Santos e Douglas Costa.
Ações pelos dois lados, e pelo meio – com Tcheco e o pivô de Maxi López, boa marcação. Um time equilibrado. Rospide parecia ter encontrado o desenho tático e a distribuição de jogadores próximos do ideal, na relação com as características de cada jogador do elenco. Mas no 2º tempo Maylson cansou, parou de auxiliar Túlio, e em um erro de Adilson na saída de bola, saiu o gol do Cruzeiro.
Daí em diante Rospide passou para a terceira formação do Grêmio na partida. Ele recuou os dois jovens, cansados de apoiar e marcar os laterais cruzeirenses. Douglas Costa e Maylson alinharam com os volantes. Tcheco permaneceu à frente, fazendo o “enganche”. Desenhava-se um 4-5-1 desdobrado em 4-4-1-1, com duas linhas de quatro, um meia-ofensivo e um atacante.
Foi o pior momento do Grêmio na partida. Duas linhas recuadas em um campo com as dimensões do Mineirão fazem uma péssima ocupação de espaços. Já no 4-5-1 com três meias e laterais passando o Grêmio estava fazendo uma bela ocupação, embora sem posse de bola, até certo ponto controlando a partida.
O jogo terminou empatado em 1 a 1, com muitos erros de arbitragem, expulsões, lances polêmicos, reclamações, trocas de agressões, e outros aspectos que não fazem parte da análise prioritária do blog Preleção – um fórum de debates sobre sistemas táticos.
Acompanharei com curiosidade a partida de quarta-feira, para ver que mais o Rospide tem a mostrar. Ontem, com três alternativas táticas e capacidade de improvisar imediatamente após uma perda (Réver), o técnico interino do Grêmio se saiu bem.
Postado por Eduardo Cecconi