Por muitos anos o Campeonato Inglês sofreu com o estereótipo do defensivismo exacerbado, da rigidez do 4-4-2 em duas linhas, da falta de criatividade, e da articulação ofensiva resumida ao “chuveirinho”. O crescimento financeiro de clubes contribuiu para a mudança de perspectiva. A Premiere League agora é considerada a competição nacional mais qualificada da Europa, mas ainda sobrevivem conceitos defensivistas arraigados à tradição inglesa.
Hoje, os técnicos de Liverpool e Manchester City demonstraram que não pretendem abandonar planejamentos táticos voltados ao combate das virtudes adversárias. Tanto o anfitrião Rafa Benítez como também o visitante Mark Hughes decepcionaram em Anfield Road, relegando sistemas e jogadores mais ofensivos que poderiam ser escolhidos, em nome do encaixe da marcação. Anularam, desta forma, o adversário e a si mesmos.
Ambos optaram pelo 4-5-1. No Liverpool, a disposição dos jogadores pode ser desdobrada em 4-4-1-1. São duas linhas de quatro jogadores, com Gerrard à frente da segunda, e Ngog isolado na frente. E no Manchester City, o desdobramento dá no pragmático 4-1-4-1, com duas linhas de quatro jogadores, um volante entre elas, e Adebayor não menos sozinho.
A sobreposição dos sistemas de Liverpool e City apresenta um espelhamento exato das marcações, conforme demonstra o diagrama tático que ilustra o post. De Jong, o volante entre as linhas do City, confrontou-se com Gerrard, o enganche do Liverpool. De resto, wingers bateram com laterais, e os meio-campistas centrais com os respectivos meio-campistas centrais do adversário. Espelhamento que permitiu sempre existir uma sobra – o único atacante de cada equipe entre dois zagueiros.
Rafa Benítez segue sacrificando Gerrard. E escalando mal. Gerrard não rende como enganche, e costuma perder duelos contra volantes vigorosos. Sei que o Liverpool sofre com dezenas de desfalques. Mas, ainda assim, os jogadores disponíveis permitiam uma formação mais ofensiva. Dava, por exemplo, para escalar Gerrard como winger (é assim que ele atua na seleção inglesa, por exemplo) e empurrar Kuyt para o ataque (com a lesão de Nistelrooy, ele foi o centroavante da Holanda nas eliminatórias). Formaria-se um 4-4-2 britânico, sem a necessidade sequer de recorrer ao banco de reservas. Bastaria reposicionar jogadores e modificar as funções de Gerrard e Kuyt.
Mark Hughes repete Sir Alex Ferguson, e deixa Tevez no banco para escalar um meio-campista. No United, era Giggs que entrava, no 4-4-1-1. E no City a alternativa é ainda mais defensiva: De Jong. Não seria proibido retirar De Jong, ou Ireland – subindo o volante holandês – e iniciar a partida com Tevez na frente. Sem perder a característica do futebol britânico, afinal, constituiria-se um 4-4-2 ortodoxo.
A partida terminou com empate em 2 a 2 – dois gols de bola parada (Adebayor e Skrtel), um de xiripa no abafa (Benayoun) e um de contra-ataque (Ireland). O City só marcou quando Hughes variou para o 4-4-2, com a entrada de Tevez no lugar de Barry (alinhando De Jong com Ireland). Mas ele mudou o sistema porque saiu perdendo. Enfim, como na maioria das partidas que confrontam treinadores obsessivos pela defesa, as duas equipes não atuaram de maneira equilibrada, faltou articulação, criação de oportunidades, e sobrou monotonia.
Postado por Eduardo Cecconi