Tenho falado muito no blog Preleção sobre tendência tática, quando associo os títulos conquistados por Muricy Ramalho à disseminação do 3-5-2 no Brasil. O Jonathan Wilson também debate com frequência no blog The Question do site do The Guardian a respeito da influência do 4-4-2 em duas linhas, que ele considera nociva na Inglaterra. E na leitura do livro “Elementi di Tattica Calcistica – Volume 1″, escrito por Franco Ferrari, encontrei o gancho para falar também da cultura tática italiana.
Quando se diz que na Itália se pratica um futebol dos mais defensivistas, a origem está no Catenaccio. O Catenaccio não é bem um sistema tático, mas sim uma estratégia de jogo. E esta estratégia volta-se a duas prerrogativas fundamentais: solidez defensiva e velocidade no contra-ataque.
O surgimento do Catenaccio se deu no início da década de 30. A criação é atribuída a Karl Rappan, técnico do Grasshopers e depois da seleção da Suíça. Mas foi na Itália que esta estratégia se disseminou, tendo a Inter de Milão bicampeã europeia como seu principal propagandista.
Na descrição tática, o Catenaccio original pode ser visto como uma espécie de 4-3-3 sem laterais. Os jogadores eram distribuídos da seguinte forma: um líbero fixo (quase uma contradição, afinal o líbero é um jogador “livre”), que pode ser comparado ao nosso “homem da sobra” do 3-5-2 brasileiro; à frente deste líbero fixo, três zagueiros não menos rígidos; e logo depois do paredão de quatro zagueiros, um volante complementava o bloco defensivo.
No meio-campo, uma linha à frente do volante, posicionavam-se dois meias mais abertos, ainda no campo defensivo. E na frente, três atacantes: dois pontas e um centroavante. Notem no diagrama tático que ilustra o post a grande concentração de jogadores centralizados no campo defensivo, e o espaço entre eles e os atacantes.
Segundo Franco Ferrari, autor do livro citado e instrutor da escola de treinadores da Uefa, o Catenaccio variava o sistema de marcação entre o individual e a zona. E a estratégia de jogo assim é descrita por Ferrari: “o time estacionava no próprio campo, sempre com superioridade numérica, de maneira compacta e sem oferecer espaços; no momento da reconquista da bola, avançava-se em profundidade no campo adversário, com lançamentos longos“.
Sem a bola, retranca; com a bola, contra-ataque veloz. Abdica da posse de bola, atrai estrategicamente o adversário para o próprio campo, assume o risco da pressão, até encontrar o momento certo de encaixar uma precisa transição ofensiva. Foi esta estratégia que durante muitos anos influenciou o futebol italiano, e fez esta escola clássica ser conhecida mundialmente pelo defensivismo e pelo pragmatismo.
Postado por Eduardo Cecconi
Este livro que você citou, pode ser encontrato em português? Onde?
Obrigado.
Fica todo mundo na zaga, quando recupera dá um balão pro ataque…esse filme eu já vi.
É bem o estilo italiano de jogar mesmo… retranca e lançamentos em profundidade no contra-ataque.
Ótimo texto histórico. Posso estar enganado mas parece ser a estratégia preferida do Mário Sérgio.
Acho que no Brasil se confude o Catenaccio com o homem da sobra. Tendo em vista que é bem diferente adotar taticamente o homem da sobra mas não aplicar como estratégia o Catenaccio.
O homem da sobra no o Catenaccio, sim, passa a ser peça chave. Abraço.
Eduardo, um time que era muito retranqueiro e jogava no contra-ataque era o Milan de 02-04 quando tinha Kaka seedorf e Schevchenko pro contra-ataque, era uma 4-3-2-1. Concorda comigo? …e uma outra coisa…o que acontece com o Rafa Benitez? você acha que ja se desgastou no Liverpool? precisa trocar de time?
Resposta do Cecconi: sim, o esquema do Milan era o “Christmas tree”, árvore de natal, pelo escalonamento dos três volantes, dois meias e um atacante. Não gosto do Liverpool do Rafa Benítez, acho ele cauteloso em excesso, e equivocado em diversas escolhas de jogadores. Abraços.
Ótimo post Cecconi, acho que se conhecermos os esquemas mais antigos podemos entender ainda melhor os atuais, bem como suas múltiplas variações, pois geralmente um novo esquema ou variação do mesmo surge como uma espécie de transição para superar os anteriores que são usados pela maioria dos clubes, seria uma espécie de evolução, ou seja, quando algum(s) esquema (s) estão largamente disseminados, é necessário que surja outro para vence-lo. Isso acontece desde a época do 2-3-5 no início de tudo.
Eduardo, Voce poderia fazer um analise sobre o esquema tatico do Chelsea? Nao vejo outro time que jogue tão bem com 2 atacantes que tem estilos parecidos.
Resposta do Cecconi: makito, há várias análises recentes do 4-4-2 em losango do Chelsea. Procura por favor no “busca” do blog, pelo nome do time, que vais encontrar. Abraços.
OLÁ,AMIGO EDUARDO CECCONI EU GOSTARIA DE SABER SE VOÇÊ TEM ALGUM PROGRAMA DE COMPUTADOR QUE POSSAMOS FAZER TRABALHO TÁTICOS E DE POSICIONAMENTOS PARA QUE POSSAMOS DAR AULAS PARA JOGADORES,ESSE PROGRAMA OS BOTOES SE MOVE E NOS COLOCAMOS AONDE QUEREMOS.ABRAÇO
goataria de saber se o senhor sabe se necessita da faculdade de ed. física para ser treinador profissional?? obrigado
Resposta do Cecconi: Jardel, para atuar no futebol profissional é necessário sim esse diploma, mas há treinadores que não o possuem, e conseguem a autorização pelo tempo de serviço na função. Abraços.
Já sei por que livro o Celso Roth andou estudando….
o esquema não, mas a idéia de jogo é a mesma do tite com nilmar e taison, quantos jogos vimos o inter massacrado no seu próprio campo e achar gols no contra-ataque, vencemos a sul-americana e alguns jogos da copa do brasil e brasileiro assim
esse é meu esquema do winning eleven =]
Belo post Cecconi. Acho muito interessante compartilhar métodos históricos, principalmente os que influenciaram a escola tática do país. Eu não conhecia este histórico e nem o livro que citou.
Ps: Sempre interessante ver como jogava o lendário Fachetti.
Abraço.
Cecconi, viu na análise do Jonathan Wilson desta semana seus comentários sobre esquemas táticos assimétricos?
Bastante aprofundado e exemplificado.
E sobre o catenaccio ele acrescenta que em geral o ponta-direita voltava para compor o quarto homem de meio-campo, tornando o ferrolho ainda mais difícil de ser arrombado.
eu gostaria de saber se o sr sabe se precisa cursar a faculdade de educação física??
abraço..
Me fez lembrar o São Caetano quando fez sucesso. Não lembro como jogava, mas a imagem que lembro é de exatamente no momento em que recuperavam a bola era lançamento pras pontas por osmose.
Esse esquema não seria o precursor do recente 4-5-1?
[...] inglês Jonathan Wilson, sobre a evolução tática do futebol. Não dissecarei o capítulo sobre o Catenaccio, porque recentemente falamos sobre este sistema aqui no Preleção. Hoje, o assunto é o surgimento [...]
GENIAL!, por mais que esse esquema não exista mais, sua estrategia persistem em alguns times
foi lindo de ver o Chelsea no 0-0 contra o Barcelona temporada passada
e o Rubin Kazan contra os mesmos essa temporada 2-1
Eu gostaria de saber se o Volante era um “Trinco” ou era um cara que saía pro jogo. E gostaria de saber também se os meias abertos avançavam ou ficavam estacionados na defesa dando lançamentos.
Obrigado, ótima análise