No post de ontem – da série de análises do livro Inverting the Pyramid, de Jonathan Wilson – falei sobre a criação do W.M por Herbert Chapman no Arsenal, que revolucionou o planejamento tático do futebol mas foi tido na própria Inglaterra como responsável pela blindagem britânica a novidades. Na Itália, entretanto, a revolução chegou e foi adaptada às características do futebol local, interpretação que originou um novo sistema.
Conforme Wilson lembra em criteriosa apuração histórica, o regime fascista viu no futebol um importante instrumento de propaganda política. Seria necessário criar, principalmente na seleção nacional, uma identidade. O povo precisaria reconhecer na seleção características também atribuídas ao fascismo, e pelos bons resultados vindouros concluir que tudo ia bem no país.
Com o técnico Pozzo no comando, um nacionalista simpático a esta filosofia, a Itália se decidiu pelo futebol-força. Os jogadores teriam de ser atletas, combinando vigor físico e velocidade. Massa muscular e explosão. E, nas atitudades, serem combativos, determinados e dedicados à causa. “Vencer a qualquer custo” era o lema da Azzurra – lema este que levou a Itália a praticar até mesmo certa violência, com intimidação física em campo, como relata Wilson em diveros jogos importantes. Mas, além do comportamento exigido, a Itália também apresentou nesta época uma bela inovação tática.
Pozzo não confiava no 2-3-5, ainda utilizado como padrão na Europa. E também se mostrava resistente ao recém-surgido W.M. A solução foi reunir ambos. De maneira até certo ponto simplista, é possível dizer que o técnico da seleção italiana montou um planejamento com o sistema defensivo do 2-3-5, e o sistema ofensivo do W.M. Nascia o W.W, que pode ser desdobrado em 2-5-3 (ou em 2-3-2-3, como queiram) – reitero, como já avisara ontem, que a tradução do sistema em letras se dá pela leitura do diagrama tático do ataque para a defesa, padronizando a maneira como Jonathan Wilson faz no Inverting the Pyramid.
A Itália passou a jogar com dois zagueiros, protegidos por um centromédio e dois meias lateralizados, tal qual se usava no 2-3-5. Mas acrescentou uma segunda linha no meio-campo, à exemplo do W.M, recuando os atacantes internos para a intermediária. Na frente, permaneceram o centroavante e dois ponteiros abertos pelos lados. Pozzo também foi um dos pioneiros da marcação individual, que adotava sempre para anular o cérebro da equipe adversária – geralmente o centromédio no 2-3-5, ou o centroavante no W.M.
Foi com o W.W que a Itália conquistou duas Copas do Mundo consecutivas, em 1934 e 1938. A inovação tática e a estratégia de futebol-força a ela aplicada deram grande resultado. Subitamente, a Itália tomava da “Danubian School” – Áustria e Hungria – o protagonismo do futebol europeu, desbancando ainda os pragmáticos ingleses e a escola Sul-Americana representada pelo talento individual dos uruguaios e argentinos.
Leiam mais na série “Invertendo a Pirâmide”:
1) Primeira tática se inspirou no rugby
2) Novo impedimento proporciona variação
3) Escolas clássicas do futebol
4) O revolucionário W.M de Herbert Chapman
Postado por Eduardo Cecconi