Assistir ao Chelsea jogando me faz pensar se este Carlo Ancelotti é o mesmo que há poucos meses tomava decisões muito questionáveis no Milan. Ontem, em goleada de 7 a 2 sobre o Sunderland, o técnico italiano soube driblar com muita inteligência as ausências dos africanos Drogba e Essien (na Copa Africana das Nações, assim como os reservas Mikel e Kalou) e dos portugueses Deco e Bosingwa (lesionados).
Ancelotti manteve o Chelsea no 4-4-2 em losango. À primeira vista, uma estrutura tática idêntica à original, com linha defensiva de quatro jogadores, um volante central protegendo a área, dois apoiadores marcando sem a bola e criando com ela, um ponta-de-lança ofensivo centralizado, e dois atacantes – um de área, outro de movimentação.
Mas a estratégia ofensiva encaixou-se às exigências do elenco sem Drogba e Essien. É uma sequência de sincronias que levou à criação de 29 chances de gol, em absurdos 71% de posse de bola. Tudo começa, acredito, pela entrada de Malouda no lugar de Drogba.
Canhoto, Malouda levou Ancelotti a modificar a função de Anelka, que se tornou a referência de área, com Malouda fazendo o trabalho em suas imediações, pela esquerda. O substituto de Drogba contou ainda com o assessoramento constante de Ashley Cole, lateral que recupera sua melhor forma jogando em alto nível, com qualidade, velocidade, e precisão.
Para equilibrar, Ancelotti levou Joe Cole para as diagonais inversas, saindo do meio para a direita. Assim, o Chelsea trabalhou nos dois lados: esquerda, com Ashley Cole e Malouda; direita, com Joe Cole e Anelka – com Ivanovic apoiando menos. Essa solução – levar Joe Cole para o lado – proporcionou o que de mais bonito fez o Chelsea nessa partida.
Com a frente da área liberada, Lampard e Ballack brilharam, tanto na distribuição do jogo como também no ingresso na área. Malouda e Joe Cole, saindo pelos lados, arrastaram a marcação na intermediária do Sunderland, escancarando a porta da área. Dessa forma, Lampard e Ballack puderam se adiantar, sendo muito mais do que simples apoiadores. O resultado desta estratégia é: dois gols de Lampard, um de Ballack, todos de dentro da área.
O Chelsea abriu a marcação do Sunderland. Sem mexer no sistema tático. Mantido o 4-4-2 em losango, Carlo Ancelotti apenas se adequou às novas exigências do elenco desfalcado. Foi muito bem o técnico dos Blues. Ganhou o sábado quem, assim como eu, ontem parou para assistir a esta aula de futebol inteligente.
Postado por Eduardo Cecconi