O 4-2-4 nasceu no Brasil e ganhou destaque com o título de 1958, mas desde seus primeiros dias na Seleção já pendia ao 4-3-3. Graças ao movimento de vai-volta do então ponta-esquerda Zagallo, que pela intensidade com que retornava para auxiliar na marcação, acabava se tornando uma espécie de terceiro homem do meio-campo.
Em 1962 o recuo de Zagallo ficou tão configurado que não se via mais uma variação do 4-2-4 para o 4-3-3, e sim o inverso: o posicionamento inicial do “Formiguinha” – assim chamado pelo desvelo na aplicação tática – partia do meio-campo. O Brasil já atuava com três atacantes, e Zagallo era o pioneiro – ou então, o primeiro a ganhar fama neste sentido – da polivalência. Um jogador capaz de desempenhar mais de uma tática individual (função), permitindo à equipe variar dentro da mesma partida seu sistema tático.
O exemplo de Zagallo disseminou pelo futebol mundial diversas variações táticas. Se até a Copa de 1958 sempre havia uma tendência predominante, que influenciava os demais (primeiro o 2-3-5, depois o W.M, depois o 4-2-4), a partir de Zagallo cada treinador passou a estudar como conciliar as características de seus jogadores a um sistema de jogo que pudesse explorar essas virtudes da melhor maneira.
Em 1966, a Inglaterra conquistou sua primeira – e única – Copa do Mundo amparada em duas variações táticas. Alf Ramsey, técnico dos ingleses, convocou jogadores polivalentes, com a clara intenção de consolidar mais de um sistema tático, mais de uma estratégia, mais de um padrão de jogo. Ele percebeu que, a despeito da técnica individual, da importância do jogador, a organização coletiva está acima do brilho singular que antes predominava no kick and rush, embrião do wing play inglês, que por muitos anos fez o país acreditar que o futebol se decidia pelos pés de um velocista habilidoso “resolvendo sozinho”.
Ramsey começou no 4-2-4 sua jornada, mas rapidamente escolheu “um Zagallo” para variar ao 4-3-3. Segundo Jonathan Wilson resgata no livro Inverting the Pyramid, o winger direito Paine reproduzia no English Team o movimento de vai-vem lateralizado do Formiguinha brasileiro. Com grande sucesso nos amistosos prévios da Copa. Desempenho satisfatório que levou Ramsey a esconder o jogo dos adversários – ele atuava no 4-2-4, mas treinava no 4-3-3, com a intenção de lançar uma falsa percepção do estilo inglês para os concorrentes.
As mudanças não pararam. Tanto que o segundo jogador a recuar, de maneira definitiva, foi o centroavante Bobby Charlton. Ele deixou de ser um segundo jogador de área, para atuar centralizado na segunda linha de meio-campo, como organizador. Na frente, dois homens. Um 4-4-2 bem caracterizado. Paine saiu, mas Ramsey fixou Peters e Ball – dois formiguinhas – pelos lados, completando com Bobby Charlton o setor.
Jonathan Wilson reproduz uma excelente definição de Ramsey, justificando sua escolha à época: “ter dois wingers abertos pelos lados é deixar sua equipe com apenas nove jogadores quando está sem a bola”. Foi para ocupar melhor os espaços no meio-campo que o treinador da Inglaterra optou pelo fim do wing play, pelo fim dos pontas, e pelo fim do 4-2-4. Um centroavante recuou, um winger tornou-se meio-campista, e os atacantes alinharam-se para formar uma dupla de área. Na final, este 4-4-2 venceu a Alemanha Ocidental, que se utilizava do “default” do 4-2-4 brasileiro.
O desenho, entretanto, ainda não era o das famosas “duas linhas de quatro”. Havia um volante central à frente do quarteto defensivo, guarnecendo um trio de articuladores que contava com um organizador, e dois apoiadores que faziam o vai-vem pelos lados do campo. Na prática, um ponta-de-lança e dois Zagallos. O sistema tático deu certo – e escondê-lo nos amistosos lançou surpresa sobre o que os ingleses apresentavam na Copa, sem que os adversários tivessem um antídoto.
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Postado por Eduardo Cecconi
Cecconi, gostaria que vc escrevesse sobre as possibilidades de variação tática sem que seja necessário substituições no time do Grêmio. Com Victor, Mário, R.Marques, Rever, Lúcio; Adilson, Ferdinando, Sousa, Hugo; Leandro e Borges. Ao meu ver com esses jogadores o Silas pode optar pelo 442, 451, 352, 361, 443, sem mexer no time e com cada atleta desempenhando fácilmente sua função, o que acha?
Boa série histórica. Parabéns Eduardo.
Quanto ao sistema é interessante. Já vi algumas aplicações do losango com esta lógica de jogo (mesmo porque, têm semelhanças), onde temos o ponta de lança atrás dos atacantes e ao invés do avanço dos meias para o centro eles lateralizam, abrindo para as pontas.
Grande abraço.
Eduardo, as variações táticas hoje remetem ao meu ver ao já manjado 433 esquema mais usual e de mais fácil adaptação. Pq razão você acha que não vemos nossos times (gre-nal) usando este esquema, em detrimento de variações retrancadas de 343?
[...] 9) Zagallo disseminou as variações táticas [...]
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