A constatação mais interessante do livro Inverting the Piramyd, do jornalista inglês Jonathan Wilson, é exatamente o título da obra. Depois do 2-3-5, primeiro sistema tático nitidamente mais organizado da história, a evolução tática levou a uma inversão daquela pirâmide inicial. A base, que ficava no ataque, passou para a defesa.
E o italiano Livorno finaliza este processo, jogando em um 3-5-2 com cara de 5-3-2. A inversão total da pirâmide. Cinco defensores, três jogadores de meio-campo, e dois atacantes. Ao menos, foi assim no empate de domingo contra o Milan, por 1 a 1.
A diferença deste 3-5-2 do Livorno para os sistemas com três zagueiros utilizados no Brasil é o sistema de marcação. Não há perseguições individuais. Os zagueiros não marcam os atacantes, nem os volantes pegam os meias, muito menos os alas batem com os laterais adversários. O Livorno marca por zona. Nunca tinha visto marcação por zona no 3-5-2, acreditava que nem era possível, mas hoje assisti à integra da partida, e foi o que vi.
Com a marcação por zona, os alas não perseguiram individualmente os laterais do Milan. Alinharam-se aos zagueiros, sem a bola, bloqueando a entrada da área com cinco jogadores. Desta forma, o ala-direito Filippini cuidava de Ronaldinho, e o ala-esquerdo Pieri de Beckham. Sobravam três zagueiros para marcar Borriello, sem que nenhum tivesse esta incumbência clara. O centroavante do Milan era combatido pelo “dono” da zona onde ele ingressava. Este movimento permitia aos demais zagueiros adiantarem-se, marcando à frente, e tirando espaços da articulação rossonera.
Os três meias também marcaram por zona. Alinhados, assim como zagueiros e alas. E, como é comum às marcações por zona, realizavam a basculação para os lados. Quando o Milan subia pela esquerda, Raimondi combatia o lateral, para permitir a Filippini a marcação sobre Ronaldinho. Os outros meias se aproximavam para a cobertura. O mesmo acontecia na esquerda. Pulzetti no lateral, permitindo a Pieri pegar Beckham.
Quando Ronaldinho, por exemplo, buscava uma diagonal, não era Filippini quem o perseguia. Mas sim um dos zagueiros adiantava-se. Marcação por zona. Na essência, pressão exercida sobre a bola, não sobre o adversário. Um 3-5-2 diferente, com cara de 5-3-2, e com uma bela demonstração, aos treinadores brasileiros, de que é possível jogar defensivamente sem desorganizar a equipe.
Afinal, no 3-5-2 à brasileira, as marcações individuais por função “bagunçam” o posicionamento inicial da equipe. Quando a bola é recuperada, não há saída organizada. Marcando por zona, o Livorno mantém a estrutura da equipe, sem se emaranhar. Na transição ofensiva, os jogadores estão bem posicionados. Sem posse de bola – 34% apenas – mas com muita segurança ofensiva e agilidade no contra-ataque, o Livorno empatou em 1 a 1 fora de casa, saindo atrás no marcador.