Gosto de reiterar no blog Preleção que jogar com a posse de bola – seja ela objetiva ou paciente – é uma tendência comprovada pela disseminação dos sistemas que agrupam jogadores no meio-campo. Quem tem a bola não pode sofrer gols, pois está com ela; e ainda mantém-se na iminência de marcar, buscando espaços. É a estratégia que mais me agrada. Jogar com a bola, marcar com a bola, adiantar-se, tirar espaços do adversário, criar espaços. Sempre com a bola. Como faz o Barcelona. Entretanto, esta não é uma regra, uma fórmula matemática. É uma tendência, apenas. Lógica, mas falível. Contrariada eventualmente, como hoje, pelo Lyon.
Com apenas 33% de posse de bola, o Lyon venceu o Real Madrid por 1 a 0, jogando em casa, pela Champions League. Abdicou de se articular, e não teve vergonha de propor uma estratégia reativa sob a assistência de seus torcedores. O Lyon reagiu ao Real Madrid, venceu sem sofrer gols, e vai à Espanha em boa posição – embora seja ainda mais arriscado jogar desta forma no Santiago Bernabéu.
O Lyon posicionou-se no 4-4-2 em duas linhas, bem definido. No meio-campo, dois jogadores de marcação por dentro – Toulalan e Makoun – e nos extremos dois wingers: Delgado na esquerda e Govou na direita. À frente, Pjanic mais à direita, ora recuando para tornar-se um quinto jogador de meio-campo, ora aproximando-se de Lisandro López, o único atacante clássico da equipe.
A estratégia principal aplicada à concessão da posse de bola ao Real Madrid foi: jogar pela esquerda, marcar pela direita. Se em um lado o treinador liberou Cissokho para apoiar, na direita Reveiller manteve-se fiel ao posicionamento original; Toulalan prestou especial atenção ao setor, deixando o centro para cobrir o lado direito defensivo; e Govou teve fôlego para recuar e marcar no campo do Lyon, pelo lado, sempre que preciso.
Com isso, o Lyon criou um triângulo de marcação sobre o centro da inteligência merengue: Kaká e Cristiano Ronaldo jogaram abertos pela esquerda ofensiva. Tiveram pela frente Reveiller, Toulalan e Govou. O Lyon lhes deva a bola, mas lhes tirava espaço. Do outro lado, Cissokho não precisou marcar ninguém em especial, e teve liberdade para empurrar a equipe ao lado de Delgado. O equilíbrio ofensivo, já que Reveillere não subiu, foi a queda de Pjanic para o lado direito, auxiliando Govou.