No primeiro jogo sem Ricardo Gomes, o auxiliar Milton Cruz abdicou dos três zagueiros e sistematizou o São Paulo no 4-4-2, ontem, pela Copa Libertadores. A equipe levou 2 a 1 do Once Caldas de virada, na Colômbia, mas teve uma boa atuação no primeiro tempo. Uma disposição tática diferente de tudo o que haviamos observado nesta temporada – leiam aqui.
O 4-4-2 do São Paulo teve dois desenhos. Sem a bola, Cléber Santana e Hernanes – pelos lados – alinhavam-se aos volantes Jean e Richarlyson. Mas com a bola eles não atuaram como “wingers” clássicos, não foram meias-extremos incisivos, ofensivos, de condução para a linha de fundo ou de diagonais para a conclusão dentro da área.
Com a posse, tanto Cléber Santana quanto Hernanes posicionavam-se mais centralizados, à frente dos volantes, em um 4-4-2 bem brasileiro: dois marcadores e dois armadores no meio-campo. Assim que o adversário recuperava a bola, ambos rapidamente retornavam à linha de meio-campo, bloqueando a frente da área, à frente da linha defensiva.
No 2º tempo, entretanto, Milton Cruz apresentou uma terceira alternativa tática. Ele recuou o atacante Marcelinho Paraíba, centralizou Cléber Santana, e inverteu Hernanes para a direita. O trio manteve-se à frente dos volantes com ou sem posse de bola. Configurando um 4-5-1 com dois volantes e três meias, também chamado de 4-2-3-1.
O mais interessante, apesar da derrota, é contrariar os defensivistas que atribuem os sistemas com três zagueiros à inviabilidade de se jogar com laterais ofensivos. Ou o lateral é base, ou é ala. Está errado. Milton Cruz armou o 4-4-2 com Cicinho e Jorge Wágner nas laterais. E eles respeitaram o posicionamento inicial na linha, alternaram o apoio, e sempre que o ataque do Once Caldas se dava pelo lado oposto, faziam a basculação defensiva, ingressando na área para formar uma sobra.
Pode se discutir não o 4-4-2, ou a escalação de dois laterais ofensivos – mesmo que eles tenham se dedicado ao cumprimento de todas as atribuições exigidas pela função. O que me desagradou foi o mau desempenho técnico de alguns atletas. Faltou a Milton Cruz, no intervalo, recorrer ao reservado. Ao invés de trocar jogadores que iam mal – Marcelinho Paraíba, Richarlyson e Cicinho não estavam inspirados – ele preferiu alterar o sistema tático. Não deu certo, e o time permitiu a virada.
Ainda assim, torço para que Milton Cruz não desista, e siga se utilizando deste 4-4-2 que varia da linha para o quadrado. E, acima de tudo, com laterais que apoiam e defendem, como deve fazer todo o jogador escalado para a função. Sem a ideia de que é preciso jogar com três zagueiros para proteger os lados do campo.