Considerada uma das principais favoritas ao título da Copa do Mundo de 2010, a seleção da Inglaterra passa por uma fase de péssimas notícias. São tantos os problemas que não há soluções para todos. Acredito que o técnico Fábio Capello mal consiga dormir, às vésperas do Mundial da África do Sul, em busca de alternativas.
O sistema tático deve ser mantido. É o 4-4-2 britânico, em duas linhas, com um atacante de movimentação e um de referência. A estratégia também é convencional: sem a bola, marcação por zona – pressão sobre a bola – nas duas linhas, e pressão-alta dos dois atacantes sobre a saída adversária; com a bola, transição ofensiva pelos lados do campo, com os wingers; e distribuição de jogo centralizada nos meias box-to-box, apostando também nas infiltrações pelo chão para os atacantes.
Não há, entretanto, um winger-esquerdo ortodoxo. Durante as Eliminatórias e amistosos, Capello entregou a função a Gerrard. O capitão do Liverpool, entretanto, sempre se destacou como um box-to-box. Não aprofunda as jogadas, não sabe se utilizar da linha de fundo, e ainda por cima é destro, o que lhe obriga a priorizar as diagonais.
Para piorar, é mal escalado por Rafa Benítez como o “número um” do Liverpool, no 4-5-1 desdobrado em 4-4-1-1, refém de zagueiros, sem espaço para concluir a média distância, e sem espaço também para seus lançamentos e assistências longas. Está em má fase. Milner, outro destro – porém mais adaptado à função – é a alternativa.
Capello usa Gerrard na extrema-esquerda da segunda linha porque, por dentro, considera Barry e Lampard mais seguros. São os titulares das posições centrais do meio-campo. Infelizmente para o técnico inglês, no entanto, também não vivem boas fases em seus times.
A diagonal de Gerrard servia para abrir o corredor a Ashley Cole, uma compensação tática interessante. Com este balanço entre ambos os lados – winger abre na direita, lateral na esquerda – a Inglaterra tem equilíbrio ofensivo. Mas Ashley Cole está lesionado, e deve se recuperar a poucos dias da preparação. Seu desempenho no retorno é uma incógnita. E o reserva imediato, Bridge, pediu dispensa depois de problemas pessoais com o ex-capitão Terry.
Na extrema-direita, Capello não tem Beckham, lesionado; Wright-Phillips perdeu a posição no City, Walcott é eterno reserva no Arsenal. Sobra Lennon, bom jogador do Tottenham, mas não um protagonista.
E no ataque, encerrando a longa lista de problemas, Capello ainda não encontrou o parceiro ideal para Rooney. Já usou Crouch, Defoe, Heskey, Carlton Cole…cada um com uma característica, um estilo. Entre todos que vi, os de melhor desempenho foram Defoe e C.Cole, mas Heskey foi titular no maior número de jogos. Em todo caso, todos eles se igualam a Lennon e Milner – alternativas a problemas: são coadjuvantes.
Lesões de Beckham e Ashley Cole; declínio técnico de Gerrard, Lampard e Barry; problemas pessoais entre Terry e Bridge; indefinição no ataque. Capello tem muito trabalho pela frente até junho.