Quando recentemente definiu o 4-4-2 como sistema preferencial do Inter, o técnico Jorge Fossati desenhou o meio-campo em uma espécie de quadrado, com dois volantes alinhados e dois meias mais adiantados, e pouco abertos pelos lados. No desdobramento em quatro faixas, poderia ser descrito no 4-2-2-2 – leiam aqui. Mas ontem, Fossati alterou esta formação, sem modificar a escalação da equipe.
Contra o Novo Hamburgo, o meio-campo do Inter lembrou o losango implementado por Tite na temporada passada. Sandro posicionou-se mais centralizado à frente da área, tendo o auxílio de Guiñazu pela esquerda. Giuliano foi o apoiador, desalinhado com Guiñazu – mais adiantado, portanto – à direita. E D’Alessandro saiu do lado, centralizando a articulação. Na teoria tática, este desenho é chamado de “losango assimétrico”, quando um dos lados da segunda linha se desprende mais com a posse de bola.
A diferença é pequena na comparação com o primeiro 4-4-2 de Fossati no ano. São variações, portanto, de uma mesma ideia de futebol. Contra o Cerro-URU, Sandro recuava para marcar o segundo atacante, centralizando enquanto o time atacava, e tendo à frente Guiñazu e Giuliano passando pelos lados. Mas Giuliano estava mais adiantado, e a principal mudança é a centralização de D’Alessandro - que contra o Cerro-URU também procurava a faixa lateral.
Foi uma boa solução encontrada por Fossati para qualificar a organização colorada. Neste losango, D’Alessandro e Giuliano aproximaram-se. Ao invés de ter um meia em cada faixa lateral, D’Alessandro jogou pelo centro, tendo a passagem de Giuliano pela direita. A dupla protagonizou diversas tabelas, algo raro nas últimas partidas – apesar dos erros técnicos, principalmente nos passes.
Centralizado, D’Alessandro também parece mais à vontade. Como um ponta-de-lança, no desdobramento para o 4-3-1-2, ele consegue se movimentar em um espaço menor de campo. O argentino é aquele “enganche à moda antiga”, um jogador que faz a bola e o time correrem, distribuindo o jogo. Por ali, tendo Giuliano próximo, e também encostado nos atacantes, D’Alessandro pode fazer mais tabelas curtas e acionar infiltrações diagonais pelo chão.
O balanço ofensivo entre os dois lados se deu com o posicionamento inicial de Walter pela esquerda. O atacante jogou em constante diagonal, buscando Alecsandro no pivô, e se aproveitando da força física para disputar a segunda bola, e também para concluir de média distância – como no golaço que marcou. Esta diagonal abria o corredor para as passagens de Kleber e Guiñazu, enquanto na direita o improvisado Glaydson se preocupou com a marcação de Paulinho, com o lado ofensivo ocupado por Giuliano e pela aproximação de D’Alessandro.
Parece-me que o maior beneficiado com este 4-4-2 em losango é Alecsandro. Ele conta com um companheiro que “casa bem” com suas características – Walter é forte, atrai a atenção de zagueiros, desonera Alecsandro na área, e gosta de tabelar; também conta com D’Alessandro mais centralizado e próximo; e com passagens por ambos os lados, sendo municiado pelo alto, e pelo chão, sem precisar buscar jogo fora da área, o que vinha lhe prejudicando.
A equipe, entretanto, apresentou problemas defensivos. Acredito que não pela estrutura tática, e sim por derrotas individuais de seus defensores. Ambos os laterais (Juan, que substituiu Kleber, e Glaydson) foram batidos nas jogadas do segundo e do terceiro gols; Índio e Bolívar deixaram os atacantes se anteciparem; e Pato Abbondanzieri mostrou, com suas rebatidas, que gosta de viver perigosamente.
Fossati agora tem pelo menos duas alternativas: o 4-4-2 com dois volantes e dois meias, e o 4-4-2 com meio-campo em losango. Pela pouca amostragem, gostei mais do segundo exemplo, apesar do vazamento defensivo. O Inter foi mais criativo, marcou mais gols, e privilegiou seu meia principal, e seu centroavante.