Tive a oportunidade de acompanhar ontem à noite o treino de reconhecimento realizado pelo Deportivo Quito no Estádio Beira-Rio. E o técnico Rúben Dario Insúa, ao contrário de todos os estrangeiros que vêm enfrentar Inter ou Grêmio, além do manjado rachão também realizou um treino tático. E aberto à imprensa. Excelente para o blog Preleção.
O Deportivo Quito prepara um 3-4-3 para enfrentar o Inter a partir das 19h30min, pela Copa Libertadores. Mas a descrição numérica, que sugere uma formação ofensiva, na verdade tem um desdobramento muito importante nas transições. Vale lembrar que a teoria tática considera que o andamento de um jogo para uma equipe tem quatro fases: posse de bola, transição defensiva (perda da posse), posse para o adversário, e transição ofensiva (recuperação da posse, ou contra-ataque).
Com a bola, o 3-4-3 equatoriano se configura claramente. Os alas Esterilla e Mina alinham-se aos meio-campistas Minda e Saritama. À frente, Arroyo dispara pela esquerda, e Pirquio pela direita. Borghelo faz o pivô central, e também se movimenta sobre a marcação.
Sem a bola, entretanto, o Deportivo forma um paredão defensivo com nove jogadores. Os movimentos sincronizados estão reproduzidos no diagrama tático que ilustra o post. Os alas Esterilla e Mina recuam para a mesma linha do trio de zagueiros, construindo uma linha de cinco jogadores; à frente deles, os atacantes Arroyo e Pirquio recuam para o mesmo patamar de Minda e Saritama – uma linha de quatro jogadores.
Este bloqueio, com uma linha de cinco sucedida por outra de quatro, compacta-se rapidamente. Esta é a palavra, que eu procuro reiterar. A rapidez da transição defensiva do Deportivo foi exaustivamente repetida por Insúa no treinamento. Ele quer a equipe formando o paredão assim que perder a posse. A bola está com o Inter? Alas recuam, atacantes também, e formam-se as linhas de cinco e quatro jogadores.
O mesmo ele exigiu nos contra-ataques. Com velocidade o Deportivo faz a segunda linha se desprender, os alas disparam pelos lados, e os atacantes voltam a acompanhar Borghelo. No treino, foram estes os movimentos testados. Resta saber se na partida o Deportivo saberá fazer isso, e se o Inter vai conseguir encontrar espaços e bloquear as transições ofensivas adversárias.
O Deportivo, com esta estratégia, assume um risco: ceder campo demais ao Inter. E Jorge Fossati conta com jogadores habilidosos e qualificados para trocar passes e procurar espaços. Se não marcar um gol no início, será um jogo de paciência para o Inter. Como foi contra o Cerro e contra o Emelec: insistir, sem apressar, sem se desorganizar, até acertar o casamento entre tempo e espaço certos para a jogada final. E, nos dois jogos anteriores em casa, deu certo.