Tenho sido um crítico quase sistemático a decisões que considero equivocadas do técnico Silas. Mas como o blog Preleção não se propõe à disseminação de opiniões, e sim à análise da teoria tática aplicada nos jogos, é importante valorizar quando uma estratégia dá certo. Foi o que aconteceu na noite de quinta-feira, quando o Grêmio venceu o Fluminense no Marcanã, por 3 a 2. Com total mérito ao treinador gremista.
O Grêmio começou o segundo tempo jogando em uma espécie de 3-5-1, novo posicionamento que surpreendeu o Fluminense, e proporcionou uma bela saída para contra-ataques. A partir da expulsão do zagueiro Rodrigo, ainda no primeiro tempo, Silas promoveu trocas. Primeiro, saíram Leandro e Willian Magrão, para as entradas de Hugo e Rafael Marques. E depois Jonas deu lugar a Fábio Rochemback.
Na prática, Silas liberou Neuton – que atuava como lateral no 4-4-2 – para marcar o atacante do Fluminense que jogasse pelo setor esquerdo de defesa gremista. Como pedem os sistemas com três zagueiros: marcação individual por função. E Hugo abriu pelo lado como um legítimo ala, recuando para combater Mariano sem a bola, e avançando na transição ofensiva.
Por dentro, Adilson e Fábio Rochemback alinharam-se como volantes centrais, tendo Douglas à frente para o primeiro combate, e a organização da saída. Borges praticamente em nenhum momento recuou para o campo do Grêmio, mantendo zagueiros do Fluminense presos, e dando tempo com seus inspirados pivôs à aproximação de Douglas e dos alas.
Um jogador a menos durante mais de 45min, no extenso campo do Maracanã, contra um adversário recheado de atacantes…mas sem abdicar do contra-ataque. Este é o principal mérito da estratégia de Silas. Independentemente do sistema – e ele escolheu uma variação para três zagueiros na base – o Grêmio não se acovardou. E conseguiu assim ampliar a vantagem inicial, de 2 a 1 para 3 a 1, dando-se ao luxo de sofrer um gol sem arriscar a vitória construída no primeiro tempo.
Os pilares deste êxito foram a opção por Hugo na ala-esquerda, e a manutenção do posicionamento inicial avançado de Borges. Se o centroavante recuasse, ou fosse substituído, o Grêmio perderia a retenção de bola fundamental na transição ofensiva. Do contrário, com ele de costas para os zagueiros, além de evitar a subida dos defensores adversários, Borges ainda segurava a bola até que Douglas, Hugo e Edilson se aproximassem.
Frente à desorganização do Fluminense, que buscava o empate, Hugo foi muito bem atuando às costas do ala-apoiador Mariano. Ele, Douglas e Borges construíram várias belas combinações. Deste trio partiu um chute na trave, e um gol. Reitero: com um a menos, em um campo de grandes dimensões, com desgaste agravado pelo gramado molhado, e sendo pressionado.
Uma comprovação de que jogar com um a menos fora de casa, mesmo que em vantagem, não obriga o treinador a abdicar da posse de bola nem da vontade de fazer gols. O Grêmio teve tudo que os defensores tão somente do “barro no calção” exigem: brio, bravura, abnegação, disciplina tática, empenho defensivo, dedicação. Mas também teve ambição. Quis vencer, e programou-se para tal. Jogou para vencer com um a menos. Meus sinceros aplausos para a estratégia de Silas.