Nas duas últimas partidas do Grêmio – derrotas fora de casa para Santos e Palmeiras – o técnico Silas resgatou o primeiro sistema tático que tentou implementar no Grêmio, ainda nos treinos da pré-temporada em Bento Gonçalves – leiam aqui: o 4-5-1 com dois volantes e três meias, desdobrado em 4-2-3-1.
Concluí que Silas optou pelo 4-2-3-1 com uma pretensão defensiva. Contra o Santos foi com o recuo de Jonas pela direita; contra o Palmeiras, sem Borges, Jonas foi o atacante central, com Leandro de meia-extremo. Em ambas as situações, entretanto, a escolha tática parece ter seguido a ideia de que, com esta linha de três meias, o Grêmio se defenderia melhor.
Qual o resultado deste raciocínio? O recuo demasiado da linha de três meias. Leandro/Jonas, Douglas e Hugo partiram de um posicionamento inicial muito afastado da zona de articulação. Próximo demais dos volantes. Neste contexto, abertos pelos lados, Jonas/Leandro e Hugo ainda bloquearam a passagem dos laterais, ocupando um espaço que deveria ser destinado ao apoio de quem se desprende da linha defensiva.
Esse posicionamento inicial dos meias-extremos, abertos pelos lados e recuados, retirou do Grêmio a velocidade na transição ofensiva. Há muito campo para percorrer até que se chegue ao centroavante, seja Borges ou Jonas. E com os laterais bloqueados pela própria equipe, além da sobra de campo, faltam opções para o controle da posse de bola. Na prática, o Grêmio faz o desarme, mas sem alternativas e com um vácuo entre meio-campo e ataque, prontamente devolve a bola ao adversário.
Acredito no sucesso do 4-2-3-1, desde que Silas repense a estratégia defensiva que aplica ao sistema. Este modelo de jogo não pode ser escolhido para “defender com mais gente”, mas sim para ocupar melhor os espaços a partir da intermediária ofensiva. O exemplo que eu sempre utilizo é o Arsenal de Arsene Wenger, técnico que talvez faça no futebol mundial o melhor uso do 4-2-3-1.
É preciso adiantar as linhas. Todas elas. Agrupar melhor a equipe. E ter os meias ofensivos posicionados entre o meio-campo e a intermediária ofensiva, e não atrás da linha divisória. Com os dois volantes, um cobrindo cada lado, não é necessário tanta cautela com os laterais. Eles podem ser liberados para o apoio, até mesmo simultâneo. Basta que os meias-extremos joguem mais próximos, mais centralizados, trazendo a marcação para dentro e abrindo o corredor lateral. É melhor no 4-2-3-1, para a formação de triangulações, a passagem dos laterais do que o avanço dos volantes.
No diagrama tático que ilustra o post, simulei uma “escalação ideal” do Grêmio no 4-2-3-1, mas com o posicionamento que Silas aplicou nos dois últimos jogos. É campo demais entre o meio e o único atacante. Reitero que este sistema não pode ser adotado com o pensamento único de que ele “defende melhor” que o 4-4-2. O Grêmio pode seguir com este sistema, e talvez até torná-lo preferencial, desde que os meias atuem próximos do atacante, e movimentem-se para criar espaços aos laterais. Estes meias devem entrar mais na área, aplicar mais as diagonais, e mesmo sem a bola pressionar em linha mais alta a saída de bola adversária.
Sem Borges, lesionado, minha sugestão a Silas – para a manutenção do 4-2-3-1 – além do avanço das linhas e da estratégia menos defensiva – é trocar Leandro por Maylson. Ano passado, quando Marcelo Rospide se utilizou do mesmo sistema, Maylson demonstrou ser um meia-extremo muito qualificado pela direita. Seria interessante vê-lo nesta função novamente, tendo as companhias de Douglas e Hugo, protegido por Adílson, e abrindo caminho para Edilson.
Não estou, com isso, dizendo que Silas erra. A escolha pelo 4-2-3-1 é boa, e vejo no elenco do Grêmio jogadores com características adequadas a este sistema. Discordo apenas da estratégia adotada.