Passei algum tempo defendendo praticamente sozinho a titularidade de Fábio Rochemback no Grêmio, em debates sob saraivada oposicionista via Twitter. Agora, com as recentes (e boas) atuações dele, acredito que o post de hoje é oportuno para justificar minha opinião, e também para agregar mais avaliações sobre esta análise.
Fábio Rochemback é um meio-campista defensivo com estilo europeu. Diferente, portanto, dos volantes brasileiros. Sei que ele surgiu no Inter, é nativo da pátria tupiniquim, mas vale lembrar que desde cedo estagiou no Velho Continente, partindo jovem para o Barcelona. Depois, passou por clubes de Portugal e Inglaterra. Parece ter se adaptado rapidamente ao estilo exigido pela função nos campos de lá.
O melhor exemplo para ilustrar esse comportamento tático de Rochemback é o empate do Grêmio com o Flamengo no Maracanã, há poucos dias. O Grêmio conseguiu ter posse de bola ofensiva graças ao posicionamento adiantado de Rochemback. Ele adianta uma linha de marcação quando o Grêmio ataca, e assim consegue controlar a segunda bola. Praticamente todos os rebotes ofensivos foram capturados por Rochemback, responsável direto pela insistência do Grêmio no campo adversário.
A característica dele não é o combate, o desarme, o roubo de bola. Rochemback contribui sustentando a posse ofensiva com o controle da segunda bola. Ele a recupera pelo posicionamento, não pelo duelo com o adversário. Para ser efetivo, precisa estar ali antes de alguém do outro time pegar este rebote. Tem sido assim nos últimos jogos.
O problema – e a equipe precisa sincronizar movimentos para combatê-lo – é o espaço que Rochemback acaba criando às suas costas. Na Europa, é costume das equipes que atuam em duas linhas conciliar o bom aproveitamento de seus meias centrais no campo adversário com o adiantamento da linha defensiva. O time se compacta e diminui o espaço aberto pelo avanço dos meias.
No Grêmio isso não acontece. A linha defensiva avança pouco, e costumeiramente o jogador escalado para ser primeiro volante acaba exercendo uma característica brasileira da função: passar da linha da bola para receber. Se Rochemback se adiantar, o volante passar, e a defesa permanecer recuada, obviamente haverá um latifúndio para o adversário se articular, desorganizando a transição defensiva do Grêmio.
A escolha tem de ser de Silas: para adaptar a equipe ao estilo europeu de jogo de Rochemback (controle da segunda bola, posse ofensiva, distribuição de jogo na intermediária adversária) precisa criar artifícios de cobertura. Ou algemando o primeiro volante à frente dos zagueiros, ou adiantando a linha defensiva, ou ambos. Eu gosto da maneira como Rochemback atua, e acredito que o Grêmio deve se beneficiar deste estilo de jogo, não apenas com o adiantamento dos zagueiros e laterais quando houver posse, mas principalmente com a contratação de um primeiro volante qualificado para tal.