Acredito que o sistema adequado para ruir com o bloqueio defensivo do 3-5-2 é o 4-3-3. O raciocínio inverso, obviamente, também é verdadeiro: nada pior para um sistema com três zagueiros do que enfrentar um oponente com trio ofensivo. Assistiremos amanhã, na África do Sul, a este espelhamento tático no confronto entre Uruguai e França, pelo Grupo A da Copa do Mundo 2010.
O Uruguai joga no 3-5-2, com variação para o 3-6-1. São três zagueiros fixos, dois alas de predileção defensiva, dois volantes, um meia-articulador, um atacante que recua para a ponta-de-lança, e apenas um atacante nato. A escalação provável uruguaia tem Muslera; Lugano, Godín e Victorino; Maxi Pereira, Arévalo, Pérez, González e Álvaro Pereira; Forlán e Suárez. A França prefere o 4-3-3 com triângulo de base baixa no meio-campo. Linha defensiva de quatro jogadores, dois volantes fazendo a saída de bola e cobrindo o apoio dos laterais, um articulador, dois atacantes pelos lados, e um centroavante de referência. Os franceses devem jogar com Lloris; Sagna, Squillaci, Abidal e Evra; Gourcuff, Toulalan e Malouda; Govou, Anelka e Ribéry.
Para o Uruguai, este espelhamento é muito arriscado. Culpa do sistema de marcação aplicado ao 3-5-2 (individual por função). Os três zagueiros uruguaios devem perseguir homem-a-homem os três atacantes franceses: Lugano em Anelka, Godín em Ribéry, e Victorino em Govou. Da mesma forma, os alas Maxi e Álvaro Pereira vão bater com os laterais Sagna e Evra.
Na obsessão pela sobra, o Uruguai precisará recuar um dos volantes sem a bola – Pérez ou Arévalo – deixando o outro colado em Malouda, o articulador francês. Neste caso a teoria tática diz – e a prática comprova – que no encaixe tático, nas perseguições individuais, vence o lance quem tiver maior técnica. Qualquer vitória pessoal de um dos atacantes franceses sobre os zagueiros, qualquer passagem dos laterais pelos alas, qualquer movimento que desorganize a defesa uruguaia, vai oferecer muito perigo.
No 4-3-3, a França marca por zona. Esta diferença é fundamental nas faixas laterais. Sagna e Evra serão marcados pelos Pereiras, mas a recíproca não é verdadeira. Sem a bola, eles devem recuar para combater qualquer adversário que ingressar por ali. Eles serão auxiliados ainda pelo recuo dos atacantes Govou e Ribéry, que devem acompanhar os alas uruguaios.
De véspera, o único claro risco para os franceses, parece-me, é a movimentação de Forlán às costas dos volantes. Como o atacante uruguaio recua para buscar jogo, e da intermediária parte em diagonais imprevisíveis, deve indefinir o combate por zona da França. Se, neste desdobramento, Forlán conseguir retirar os zagueiros do lugar, poderá ele mesmo se aproveitar, ou então abrir espaços para Suárez.
A perspectiva é de um jogo com posse de bola e controle franceses; recuo das linhas e bloqueio defensivo uruguaios. Ataque da França, com trocas de passes e aproximações curtas; contra-ataque do Uruguai, com bola longa e velocidade. Na teoria, vantagem tática para a França. Mas vale lembrar que este 3-5-2 à brasileira – mesmo que pobre de recursos - quando obtém vantagem defensiva, e consegue eficiência na bola parada (aérea, principalmente), é competitivo.