Analisar taticamente uma equipe treinada por Marcelo Bielsa é pura diversão. Para quem – como eu – gosta de futebol voltado à vitória, à iniciativa, à ofensividade responsável, assistir ao Chile no 1 a 0 de hoje sobre a Suíça foi muito gratificante. Bielsa tentou de tudo para vencer, para ultrapassar o bloqueio proporcionado pelas rígidas, compactas e recuadas duas linhas de quatro suíças. E conseguiu, com duas variações táticas extremamente corajosas.
O Chile começou a partida no 3-4-3, resgatando o sistema preferencial com o qual se classificou nas Eliminatórias – conforme demonstra o diagrama tático que ilustra o post. São três zagueiros bem centrais, protegidos pelo volante Carmona; uma linha com dois apoiadores que abrem pelos lados (Isla e Vidal), tendo Mati Fernandez no enganche, e o trio ofensivo com Beausejour e Sanchez de pontas à moda antiga, e Suazo na área.
A mecânica de jogo planejada para abrir a posse de bola levou o Chile a apostar nos cruzamentos – talvez induzido pelo retorno de Suazo ao time. Isla-Sanchez na direita, e Beausejour-Vidal na esquerda, formaram duas duplas de jogadores incisivos no avanço pelos lados. Em 45min, foram 12 cruzamentos para a área. Mas não houve êxito frente ao bom desempenho dos zagueiros e dos laterais-base da Suíça.
PRIMEIRA VARIAÇÃO: Bielsa voltou para o 2º tempo no 4-3-3. Sacou Suazo e Vidal, abriu Jara na lateral-esquerda, recuou (um pouco, apenas) Isla na direita, e colocou Gonzalez no meio-campo, com Valdívia no ataque central. Ainda assim, a equipe seguiu insistindo na bola aérea, piorando o aproveitamento, já que não havia mais a referência de área. O treinador do Chile então repensou a estratégia ofensiva, e com uma substituição, alterou novamente o sistema tático.
SEGUNDA VARIAÇÃO: Com a entrada de Paredes no lugar de Mati Fernandez, Valdívia recuou para o enganche. Mas Gonzalez se adiantou ainda mais. O Chile assumiu a forma de um 4-2-4, com dois zagueiros (Ponce e Medel), dois laterais apoiadores (Isla e Jara), um volante recuado (Carmona, brilhante), um enganche (Valdívia), dois pontas (Beausejour e Sanchez), um centroavante (Paredes) e um jogador de movimentação na frente (Gonzalez, mais à esquerda). E nessa formação, marcou o gol da vitória, com Gonzalez.
Conclusões não faltam, e podem contentar qualquer gosto – de quem apoia ou critica esse tipo de estratégia. É inegável, entretanto, que Bielsa assumiu todos os riscos possíveis, mas com uma lógica baseada em premissa bastante clara: a Suíça teve um jogador expulso aos 30min do 1º tempo, recuou no 4-4-1 em duas linhas, e abdicou do contra-ataque.
Era necessário criar espaços e jogar sobre o limite da linha defensiva, pelo chão. Na marcação por zona com pressão sobre a bola, dupla em cada uma das quatro faixas verticais de campo, e com força física para combater a bola aérea, a Suíça anulou a jogada aérea. Bloqueou e desqualificou os cruzamentos pelos lados, e não deixou ninguém cabecear. Bielsa fez o certo. Formou um pelotão ofensivo com quatro jogadores, entregou a batuta para Valdívida, e passou a jogar com bola no chão, martelando a linha defensiva com infiltrações rasteiras, e muita movimentação. Assim nasceu o gol da vitória.
Bielsa lutou taticamente pela vitória. Jogaço.