Depois de dois empates enfadonhos, a Inglaterra venceu hoje por 1 a 0, e avançou na Copa do Mundo. Amparada no pragmatismo inglês, e também no pragmatismo italiano do técnico Fabio Capello. Embora enrijecida no 4-4-2 em duas linhas (meu sistema predileto, mas de baixo desempenho nos jogos recentes do English Team), a seleção inglesa pode se fortalecer e disputar as primeiras posições com uma fórmula bastante conhecida.
Capello combinou na Inglaterra contra a Eslovênia dois tipos de wingers. Pela esquerda, o winger organizador. E na direita, o winger clássico. Explico: não é regra que o meia-extremo seja um jogador de profundidade e objetividade pelos lados do campo. Este modelo é o winger clássico, jogador que procura a linha de fundo, faz cruzamentos, abre o jogo e forma duplas com o lateral do mesmo setor. Hoje, quem cumpriu este papel foi Milner, na direita.
À esquerda Gerrard foi o winger organizador. Uma figura que no primeiro momento, partindo-se da premissa brasileira de futebol, soa estranha. O articulador da equipe joga aberto no lado esquerdo, e não centralizado à frente dos volantes. Mas esta é a forma que Capello encontrou para abrir espaço aos seus meio-campistas mais qualificados sem desguarnecer a frente da linha defensiva.
Com a predileção por um primeiro volante – no caso, Barry – Capello ocupa a vaga de box-to-box com Lampard. Mas Gerrard precisa jogar. Destro, ele abre na esquerda e não procura a linha de fundo. Do contrário, faz a diagonal para o meio e abre o corredor para o avanço de Ashley Cole.
Outra característica de Gerrard como winger organizador é a inversão de jogadas, e o passe vertical. Não é Lampard quem faz a saída de jogo da Inglaterra. E seria natural que isto acontecesse, afinal, ele é o box-to-box central. Lampard joga mais na contenção e no rebote ofensivo. A equipe procura Gerrard para armar.
Da esquerda, ele faz passes pelo chão para Defoe e Rooney, ou inverte o jogo para Milner, abrindo espaços na basculação defensiva adversária. Hoje Gerrard foi brilhante na condução de uma equipe que, ainda assim, mostrou-se previsível e pragmática demais.
Capello pode “soltar” mais seus craques para brilhar. Hoje, com Milner aberto pela direita, e Gerrard organizando na esquerda, Rooney e Defoe cresceram na frente. É preciso algo mais. Outras variações, outras combinações, mais movimentação, posicionamento mais adiantado. A Inglaterra pode atuar com o favoritismo que todos esperavam dela antes da Copa.
*Imagem corrigida