Acompanhei hoje o primeiro treino tático de Celso Roth desde o início da intertemporada colorada, na última sexta-feira. A atividade durou cerca de uma hora, no campo Suplementar A do Estádio Beira-Rio. E foi uma oportunidade maravilhosa para acompanhar os primeiros conceitos que o treinador do Inter vai implantar na maneira de jogar da equipe, em todos os aspectos: sistema tático, estratégia, escalação, sistema defensivo…
Roth começa os trabalhos adotando o 4-5-1 com três volantes e dois meias, que pode ser desdobrado pelos mais modernos em 4-3-2-1. O desenho proposto por ele no meio-campo é o clássico modelo italiano conhecido por “árvore de Natal” – ou Christmas Tree, em inglês. A principal referência – para mim – deste sistema é o Milan de Carlo Ancelotti, mas há também outros exemplos: Zacheroni utilizou o 4-3-2-1 na Juventus contra o Fulham pela Liga Europa neste ano, e Paulo Autuori arquitetou o Grêmio desta forma em Gre-Nal vencido pelo Inter ano passado, dia 25 de outubro (1 a 0, gol de D’Alessandro, pelo Brasileirão).
A disposição deste 4-5-1 tem uma linha defensiva de quatro jogadores; um volante à frente, centralizado, e obstinado apenas em marcar e cobrir laterais, sem desguarnecer a entrada da área; uma segunda linha de volantes-apoiadores, um pela direita, outro pela esquerda; dois meias ofensivos abertos pelos lados; e um centroavante de referência. A escalação inicial teve Pato Abbondanzieri; Nei, Bolívar, Fabiano Eller e Kleber; Sandro, Glaydson, Guiñazu, Giuliano e D’Alessandro; Alecsandro. Vale destacar que Roth se previne, não utilizando atletas que ainda dependem de liberação pela janela de transferências (Tinga e Renan) ou estão suspensos da Copa Libertadores pela Conmebol (Walter e Lauro). Andrezinho e Bruno Silva, com pequenos problemas físicos, também não puderam participar.
E Roth deu, em um trabalho tático de posicionamento, uma aula sobre marcação. Ele vai combinar o uso da pressão com a basculação defensiva, sincronizando ambos os movimentos. Funciona da seguinte forma. O time adianta suas linhas e marca no campo do adversário, a saída de bola. Mas a ideia não é espalhar os jogadores e distribuí-los perfeitamente no campo, como se fosse uma mesa de botão. Não. Roth adota a basculação para manter a equipe compacta e fechada. Se o adversário sair pela direita, imaginem que todos os dez jogadores do Inter sincronizam uma espécie de “sanfona” (sinônimo para basculação) na direção deste setor. Se houver uma virada para o outro lado, todo o time vai novamente naquela direção, como se cada jogador puxasse o companheiro por uma corda imaginária. Sem abrir espaços, esta é a meta.
A pressão teve dois momentos. Primeiro Roth “palestrou” aos atletas como deveria ser feita a pressão alta, com Alecsandro, Giuliano e D’Alessandro espetados na saída, Glaydson e Guiñazu batendo com os volantes adversários, e a linha defensiva na divisória do meio-campo. Depois, orientou também a meia-pressão, com o combate posicionando-se a partir da divisória, e apenas Alecsandro perseguindo o primeiro passe, recuando-se as demais linhas.
Talvez por isso Roth tenha escolhido Eller em detrimento de Sorondo, por exemplo. Marcar pressão significa adiantar linhas, e também representa algum risco calculado de bola longa adversária. É preciso que os zagueiros tenham velocidade para acompanhar os atacantes. Eller é mais rápido que Sorondo.
Foi um trabalho que priorizou esta organização defensiva. Roth procurou ser bastante didático, mas também cobrou bastante quando não conseguia se fazer entender por algum atleta. Minuciosamente ele pegava o jogador pelo braço, posicionava na zona de atuação correta, demonstrava que movimento deveria ser feito, e alertava os demais sobre o erro cometido, e a correção. Pouco deu para ver, entretanto, sobre as ideias de Roth com a posse de bola – certamente, um passo seguinte do seu planejamento tático.
Será muito interessante acompanhar os próximos treinos táticos comandados por Roth para acompanhar a linha de raciocínio dele. É fato que a estratégia vai priorizar a marcação-pressão e a ocupação de espaços com jogadores agrupados e próximos. Mas o 4-5-1 com três volantes e dois meias não é uma certeza, ele provavelmente vai testar novas opções, até que encontre a melhor maneira de jogar da forma combativa e intensa como ele gosta.