Como é bonito quando um técnico elabora o planejamento tático a partir das características do elenco. É o que faz Celso Roth no Inter, com o 4-5-1 (ou 4-2-3-1) que oferece aos jogadores as melhores alternativas para aplicar suas virtudes. É um dos raros exemplos de correta importação deste sistema europeu no futebol brasileiro, assim como faz Mano Menezes, agora na Seleção Brasileira – leiam aqui.
O sucesso do 4-2-3-1 depende prioritariamente da movimentação e da aproximação dos meias da segunda linha. Os posicionamentos iniciais devem ser respeitados, principalmente sem a bola, definindo as zonas de marcação. Mas, recuperada a posse, estes meias ofensivos não podem se comportar como jogadores de pino-gol – restritos, como estacas de madeira, às suas zonas de atuação pré-concebidas.
Com cinco jogadores no meio-campo, e a passagem alternada dos laterais, o 4-2-3-1 é um sistema talhado à valorização da posse de bola. O repertório de jogadas é muito grande, facilitando as triangulações em “pequenas sociedades” (lateral, volante, meia-extremo; ou lateral, meia-extremo, centroavante; ou lateral, meia-extremo, meia central; ou os dois meias-extremos e o meia central; ou muitas e muitas outras combinações).
Mas não pode haver “acomodação tática”, se é que este termo existe. Este problema é facilmente identificável em outros exemplos de 4-2-3-1 importados por treinadores brasileiros. Se os meias-ofensivos da segunda linha não se movimentam, não se aproximam, a distância imposta por seus posicionamentos impede a equipe de movimentar a bola, abdicando do controle da posse em nome de uma organização demasiadamente ortodoxa e cautelosa. Esta aproximação coletiva é necessária para oferecer ao jogador que tem a bola opções de passe em qualquer direção.
No Inter, a linha ofensiva tem Taison à esquerda, D’Alessandro à direita, e Tinga (ou Giuliano, como ontem na vitória de 2 a 1 sobre o Chivas) por dentro. Quando o Inter tem a bola, entretanto, não se configura um cenário de pino-gol. Se Taison avança pela esquerda, Giuliano se aproxima, e traz consigo D’Alessandro. Ambos centralizam, oferecendo a Taison opções para o passe curto. Caso seja D’Alessandro o detentor da bola, com a passagem de Nei na direita, Giuliano e Taison aproximam-se da mesma forma. A compensação defensiva se dá com o recuo do lateral do lado oposto, e com a cobertura dos dois volantes, que também podem se adiantar para a segunda bola.
Em dois dias – terça e quarta – pudemos assistir a dois belos exemplos da estratégia correta aplicada ao 4-2-3-1 por treinadores brasileiros: Mano Menezes na Seleção Brasileira, e Celso Roth no Inter.