Assisti ontem à vitória do Grêmio sobre o Guarani, por 1 a 0, no Estádio Olímpico. Renato Portaluppi repetiu o sistema tático 4-4-2, com dois volantes e dois meias-ofensivos, e apresentou um princípio de modelo de jogo. Há um interessante balanço de posicionamentos, que envolve três jogadores, e oferece à equipe equilíbrio na transição ofensiva, ora utilizando-se de Fábio Santos na esquerda, ora chamando Gabriel ao jogo pela direita.
A formação inicial do Grêmio nos dois tempos da partida contra o Guarani teve o seguinte desenho no 4-4-2: Fábio Rochemback de primeiro volante, centralizado e pouco à esquerda; Adilson de segundo volante, mais à direita; Douglas centralizado na articulação ofensiva; Souza aberto pela esquerda; Jonas aberto pela direita, mais adiantado na comparação com Souza, configurando sua função de segundo atacante; e Borges no pivô central.
Esta distribuição de jogadores prioriza a saída pela esquerda, com as combinações de Souza e Fábio Santos. A contrapartida é o ingresso de Jonas na segunda trave, pela direita. Não por acaso, assim saiu o gol da vitória: Fábio Santos na linha de fundo, Jonas de cabeça na segunda trave.
Nos dois tempos, entretanto, Renato inverteu três jogadores: Souza passou para o lado direito (ao final, Leandro cumpriu esta função em seu lugar), enquanto Jonas e Adílson fizeram o movimento contrário, posicionando-se à esquerda na comparação com a formação original:
Desta forma, Gabriel entra no jogo. Fábio Santos fica mais preso à linha defensiva, enquanto Souza chama o lateral-direito ao apoio, apresentando-se às combinações. Jonas, do outro lado, segue ingressando na diagonal da faixa lateral à segunda trave, nas costas da defesa, movimentando-se nos espaços abertos pelo pivô de Borges.
É um balanço ofensivo que combina inversões sincronizadas de posicionamento entre três jogadores (Adilson, Souza e Jonas). É um modelo de jogo. Quem parte da premissa preconceituosa de que Renato “não é treinador” - seria apenas frasista, ou motivador – engana-se. Renato Portaluppi em poucos jogos desenha um modelo de jogo organizado, pensando ao mesmo tempo na variação de jogadas ofensivas, e no sistema de coberturas durante a transição defensiva (contra-ataque adversário).
O certo, agora, é manter este sistema e esta estratégia. E aprimorá-la, com mais combinações, mais movimentos. Isto depende de repetição, insistência, e obviamente de resultados. Se os jogadores “comprarem a ideia”, aplicando-se no cumprimento das funções, o sucesso deste modelo de jogo servirá de argumento para sua adoção definitiva como a tática prioritária de Renato no Grêmio.
Pode-se, concordo, discutir se esta é a formação ideal, se alguns destes jogadores são os mais adequados para o cumprimento de determinadas funções. Isto faz parte do debate, porque envolve as predileções de cada um, seja jornalista ou torcedor. Mas seria injusto criticar Renato por falta de planejamento tático.