Prefiro sempre a análise à projeção, ou seja, a interpretação do que aconteceu acima da projeção – com margem maior ao equívoco, porque raros são os treinadores que divulgam escalações e estratégias com antecedência. Ainda assim, é obrigatório ao menos tentar prever o que Espanha e Holanda vão apresentar na decisão da Copa do Mundo 2010.
Baseado na semifinal contra a Alemanha, acredito que a Espanha vai manter o 4-1-4-1. Foi com este sistema tático que o técnico Vicente del Bosque conseguiu compensar os problemas físicos de Fernando Torres. O treinador abriu Pedro e Iniesta pelos lados, centralizou Villa no ataque, e recuou Busquets na comparação com Xabi Alonso.
Este desenho permite à Espanha expandir o repertório ofensivo. Se no 4-4-2 quase à brasileira a Fúria centraliza demais as tabelas curtas centrais, com o 4-1-4-1 ela agrega a profundidade das jogadas pelos lados. E estas projeções de Iniesta e Pedro podem até mesmo, abrindo a marcação, oferecer espaços aos meias nas tabelas centrais de predileção da Espanha. Ou seja: rodar a bola, bagunçar o posicionamento da linha defensiva, até encontrar o espaço para a infiltração e para o passe derradeiro.
A Holanda vai manter seu 4-3-3 característico. O meio-campo tem triângulo de base baixa, com dois volantes protegendo a linha defensiva, e um ponta-de-lança responsável pela aproximação e pela organização. Sneijder cumpre este papel. À frente, dois pontas de “pés invertidos” bem abertos pelos lados – o destro Kuyt na esquerda, o canhoto Robben na direita – e Van Persie como centroavante de referência.
O modelo tradicional de jogo holandês também leva à centralização das jogadas. Por motivos óbvios. Os pontas cortam para dentro, carregando a bola conforme o pé preferencial. Neste espaço deixado por eles, entretanto, os laterais pouco avançam. Sneijder permanece centralizado, e os volantes não passam por trás dos ponteiros. A movimentação volta-se quase que exclusivamente à aproximação dos pontas com Sneijder e Van Persie, pelo centro.
Será um embate tático muito acentuado. As duas equipes chegam à decisão com méritos sem depender do brilho de apenas um jogador. Ambas têm seus protagonistas – Villa e Sneijder são os maiores – mas suas campanhas baseiam-se nos conjutos. Boas equipes, com táticas elaboradas, estratégias adequadas a seus elencos, jogadores abnegados no cumprimento das funções, e muita aplicação no combate às virtudes adversárias. Aprofundei o debate, a respeito de toda a Copa do Mundo, neste link.
Neste cenário, a Espanha leva pequena vantagem. Enquanto a holanda conta com Sneijder e Robben para sacar, de improviso, uma jogada que desconstrua a organização adversária, a Espanha tem maior quantidade de jogadores mais técnicos e em melhor momento – Villa, Iniesta, Xavi – além de uma linha defensiva mais segura. Isso não é indicativo de vitória certa da Espanha, mas sim de uma tendência que precisará contar com a mesma organização demonstrada até aqui para se comprovar na prática.