A Espanha, que prometia antes do Mundial da África do Sul variar entre apenas dois sistemas táticos – conforme seu histórico recente – tem apresentado novidades a cada jogo. Hoje, na vitória de 1 a 0 sobre Portugal, novamente o técnico Vicente del Bosque alterou a estrutura da equipe, e parece ter encontrado uma boa formação no meio-campo.
Para quem gosta de geometria na analogia da análise tática, fica difícil definir a Espanha. A Fúria enfrentou Portugal no 4-4-2, mas sem um desenho claro no meio-campo, todo desalinhado, todo assimétrico. A disposição dos jogadores no setor lembra o clássico 4-4-2 brasileiro dos anos 90: um primeiro volante, recuado (Sergio Busquets, mais à esquerda); um segundo volante (Xabi Alonso, mais à direita); um articulador central (Xavi); e um meia-ofensivo, ou – lembrando a tradição brasileira – o quarto homem do meio-campo (Iniesta, pela direita).
A compensação pela presença de Iniesta mais à direita, embora ainda ligado ao meio-campo, foi encontrada com a abertura de David Villa pela esquerda. De lá, ele procurou as diagonais e a aproximação com os meias ou com o centroavante Fernando Torres. Capdevilla protegeu o setor, sendo um lateral de apoio escasso.
A característica do jogo espanhol, entretanto, foi mantida. A seleção de Del Bosque teve 61% de posse de bola, e trocou mais de 750 passes. Essa postura, embora às vezes carente de objetividade, serve para bloquear o adversário (Portugal teve apenas 9 conclusões, contra 19 da Espanha). Gosto de lembrar uma frase de Tite, treinador que gosta de ver suas equipes atuando com posse de bola. É um conceito muito relevante:
“A posse de bola não precisa ser objetiva o jogo inteiro. É impossível manter essa intensidade” diz Tite. Concordo. A melhor maneira de se defender, ou então, a maneira mais segura de se defender, é manter a posse de bola. E ter paciência para fazê-la objetiva, com passes verticais e conclusões criadas, quando a oportunidade surgir. Sem se desorganizar. Foi o que a Espanha fez hoje.