A eliminação custosa do Uruguai nas semifinais da Copa do Mundo 2010 – derrota de 3 a 2 para a Holanda, com um gol sofrido em lance de impedimento – não é apenas a celebração da garra gaucha, da raça, do empenho, da dedicação. É também a demonstração da importância do planejamento tático em um esporte coletivo. O jogador decide, sim, mas depende da organização para ter bom desempenho.
Ao Uruguai, do grande técnico Oscar Tabárez, coube a tentativa de amenizar o controle de bola holandês. E ele conseguiu. No 4-4-2 em duas linhas, o Uruguai adiantou a marcação, exercendo meia-pressão e muitas vezes até pressão alta, na saída de bola do adversário. Com isso, conseguiu “quebrar o passe”, tirar espaços, e empurrar os atacantes holandeses para trás.
Este bloqueio contou com Álvaro Pereira bem aberto pela esquerda, auxiliando Cáceres na marcação de Robben; Arevalo Rios de primeiro volante; Pérez mais à direita; e Gargano adiantando-se – formação que pode passar até mesmo a impressão de um losango, dependendo da movimentação. Forlán e Cavani foram os jogadores de frente.
A marcação adiantada equiparou a posse de bola – ao final, o Uruguai chegou a 47% do controle, contra 53% da Holanda. Os uruguaios, mesmo derrotados, também tiveram mais conclusões (12 contra 11). Um time de jogadores abnegados, cumpridores de inúmeras funções relacionadas à estratégia de Tabárez, bloqueando a Holanda sem se retrancar, sem abdicar do jogo – pelo contrário, adiantando o posicionamento para impedir a aproximação adversária.
Mas este encaixe nos remete a conceito reiterado recentemente aqui no blog Preleção: equilíbrio tático é desfeito pela qualidade técnica do jogador. E foi assim que a Holanda, inspirada na boa fase de seus protagonistas, conseguiu vencer – contando até mesmo com um golaço de Giovanni van Bronckhorst, algo improvável. Técnica individual driblando os empecilhos táticos do Uruguai.
Não pude assistir ao jogo com atenção. Baseio-me nos poucos momentos de assistência, nos muitos relatos de outros cronistas, e nos heat maps do site oficial da Fifa – reproduzidos na imagem que ilustra o post. Heat maps que lançam até mesmo uma observação dúbia sobre a Holanda: o diagrama alinha os pontas ao articulador central, mas a movimentação detalhada de Kuyt e Robben demonstra que eles jogaram à frente do meia – abrindo margem às interpretações voltadas ao 4-3-3, e também ao 4-2-3-1.
Conto com a contribuição dos amigos que assistiram ao confronto na íntegra, para receber mais informações sobre o duelo de hoje.