Se Arsene Wenger não é o criador do 4-5-1 com três meias ofensivos (4-2-3-1), é certamente a principal referência no desenvolvimento deste sistema tático. Muito antes de se tornar uma tendência na Europa, muito antes das seleções da Copa do Mundo 2010 influenciarem os treinadores brasileiros, Wenger transformara o 4-2-3-1 em padrão no Arsenal. Após uma temporada ruim, ele revitaliza a equipe londrina com a recuperação de jogadores, e com a chegada de Chamakh.
Assisti à goleada de 6 a 0 do Arsenal sobre o Blackpool no último sábado. Wenger deu uma aula prática sobre o 4-2-3-1. A equipe teve quase 60% de posse de bola, e criou no total 30 oportunidades, marcando seis gols. O adversário – obviamente muito inferior – chegou à área do time da casa apenas uma vez em todo o jogo.
São duas as principais virtudes deste 4-2-3-1 de Wenger no Arsenal: linhas adiantadas e movimentação dos meias ofensivos. O treinador posiciona a equipe no campo adversário, ao mesmo tempo retirando espaços com marcação em pressão alta na saída de bola (forçando o passe do adversário, induzindo-o ao erro) e proporcionando uma transição ofensiva imediata, pela redução do campo a se percorrer.
Adiantadas as linhas, encurralada a saída do adversário e recuperada a bola, o Arsenal aciona as engrenagens do quarteto ofensivo. No sábado, Arshavin (esq) e Walcott (dir) foram os wingers, com Rosicky na ponta-de-lança central. A eles soma-se o centroavante Chamakh, ex-Bordeaux, com boa mobilidade e velocidade sem perder a presença de área. E todos eles se movimentam sem parar, desorganizando o sistema defensivo.
Arshavin e Walcott dão preferência às diagonais. Foi nesta investida aguda em direção à área que Walcott marcou três gols. A diagonal também abre espaço ao apoio alternado dos laterais, incluindo no repertório as jogadas de linha de fundo. Rosicky mantém a posse de bola sob controle com passes curtos de lado a outro, e ganha o apoio dos volantes Diaby e Wilshere tanto na passagem de surpresa pela última linha, como também na recuperação do rebote ofensivo. Todos eles próximos, agrupados.
Uma característica deste Arsenal movediço e ágil é concluir as jogadas no setor oposto ao inicial. A equipe vai trocando passes e rodando posições até que a bola encontre um jogador desmarcado na faixa contrária de campo. Se Rosicky aciona Arshavin e Clichy na esquerda, aproxima-se da dupla para triangular, Chamakh pode recuar e levar consigo a marcação, chamando a diagonal de Walcott pela direita da área. É com toda esta sincronia de movimentos, com toda esta engrenagem ofensiva, que o Arsenal troca passes e abre espaços nas linhas adversárias.
Sei que o Blackpool é um time muito modesto – não testou, por exemplo, a competência do Arsenal na transição defensiva (jogar com linhas adiantadas abre o risco do contra-ataque rápido, e precisa de velocidade para evitá-lo) . E que a recuperação de todos estes jogadores do Arsenal, após temporadas de sucessivas lesões, ainda é uma incógnita.
Mas a amostragem inicial é promissora. Arsene Wenger ainda sabe como fazer um 4-2-3-1 funcionar. E, vale lembrar, Fábregas e Van Persie entraram apenas no segundo tempo.