Em 2009, o Flamengo conquistou o Brasileirão se utilizando do 4-5-1 com dois volantes e três meias ofensivos, também chamado de 4-2-3-1, no desdobramento em quatro faixas de campo. O principal movimento tático era o vai-vem de Zé Roberto como “winger” pela esquerda, avançando com a bola para assessorar Adriano no ataque, recuando sem ela para manter a linha de três meias.
Hoje dou sequência à série de posts sobre os clubes brasileiros na Copa Libertadores 2010 convidando o amigo e jornalista André Nunes Rocha a falar sobre o Flamengo. Acredito que este intercâmbio de informações, abrindo espaço para a análise de quem acompanha o dia-a-dia destes clubes, acrescenta muito para nosso debate aqui no Preleção. André comanda o blog Futebol e Arte, assina colunas nos sites Papo de Bola, Futnet e Jogo de Área (de Portugal). Ele também colabora com os jornalistas Mauro Beting e Lédio Carmona em seus blogs, escreve mensalmente para o site “Olheiros”, e participa do programa “Beting & Beting” do canal Bandsports. Com a palavra, André Nunes Rocha:
“A saída de Zé Roberto, de volta ao Schalke 04, e a chegada de Vágner Love obrigaram o técnico Andrade a repaginar taticamente o Flamengo para a temporada 2010. O 4-2-3-1 que compactou os setores e deu liberdade a Petkovic e Adriano na arrancada que culminou no título brasileiro teve que ser desfeito. Apesar da aceitável disciplina tática do novo reforço, não há como o ex-Palmeiras e CSKA reproduzir o papel híbrido de Zé Roberto, que recompunha o setor esquerdo ou o central, revezando com o veterano meia sérvio, e virava um atacante com livre movimentação na retomada da bola.
Agora o campeão estadual e brasileiro tem uma dupla de atacantes de ofício que vem correspondendo em parceria e individualmente. Mesmo considerando o nível técnico indigente das equipes de menor investimento do Rio de Janeiro, os onze gols em apenas quatro partidas chamam a atenção. Mas se o rendimento ofensivo supera o de 2009, o time rubro-negro ainda não encaixou uma formação no meio-campo que dê segurança à retaguarda. A saída de Aírton para o Benfica, a contusão de Maldonado e a inconstância física de Willians, que só jogou o segundo tempo do clássico, contribuem para o cenário dramático de 12 gols sofridos em 6 jogos.
Como nas rodadas finais do Brasileiro, Toró herdou a posição do volante chileno e a ideia do técnico seria plantá-lo à frente da zaga, com Willians novamente ocupando o setor direito, mas com atribuições defensivas mais rígidas, e Kléberson, de volta ao time titular depois de se recuperar de lesão no ombro, pela esquerda. À frente deles, um Petkovic mais solto na ligação com o ataque. Na prática, um losango. Em números, um 4-3-1-2 (*ou, como convencionei no Preleção, o 4-4-2 com meio-campo em losango).
Com os seguidos problemas de Willians, Fernando, contratado ao Goiás, foi efetivado na equipe. Ele deveria ocupar o setor esquerdo, com Kléberson mudando de lado. Porém o novo reforço fica mais recuado e centralizado, quase ao lado de Toró, configurando um 4-2-2-2 (*ou um 4-4-2 com meio-campo quase em quadrado) que deixa a defesa vulnerável. Ainda mais com a lentidão do volante na cobertura a Juan, lateral que é frágil no confronto direto e concede generosos espaços pelo seu setor.
Outro problema é Pet, que se reapresentou em péssimas condições físicas e, embora tenha marcado um golaço na vitória por 3 a 1 sobre o Volta Redonda, partida que marcou o seu retorno à equipe, atrapalha pela morosidade na criação das jogadas e a participação incipiente no combate. A atuação constrangedora contra o Fluminense e a posterior indisciplina que causou seu afastamento abriram espaço para a entrada de Vinicius Pacheco, jogador irregular que vem tendo um bom início de ano. Também porque mostra sintonia fina com Love e o Imperador na frente, além de ajudar no combate aos volantes adversários.
As peças de reposição também deixam a desejar. Everton Silva não inspira tanta confiança, a ponto de Andrade ter preferido improvisar Fierro na vaga de Léo Moura contra o Flu. O próprio meia chileno, apesar da velocidade e disposição pela direita, não é um reserva à altura para Willians ou Kléberson. Michael, Rodrigo Alvim e Ramon são outras contratações incapazes de empolgar e formar um grupo confiável para o desafio maior do clube em 2010: ultrapassar a “barreira” das oitavas-de-final na Taça Libertadores da América.
Andrade vai trabalhando para alcançar um mínimo de consistência visando às semifinais da Taça Guanabara e a estreia na competição continental. A meta é recuperar boa parte da solidez defensiva do ano passado e fazer a bola chegar com mais rapidez e facilidade à dupla de ataque que funciona e, por enquanto, é o único ponto positivo do campeão brasileiro na temporada“.