Não é fácil hoje sustentar-se no 4-3-3. São raros times. Alguns poucos na Itália, como o Napoli. Na Inglaterra o Aston Villa chega à esta variação. Na Espanha, o Barcelona. Na Alemanha, o Schalke 04. O Corinthians venceu a Copa do Brasil neste sistema, embora muitos vejam nele o 4-5-1 (ou 4-2-3-1). E no Uruguai, o responsável pela “coragem” tática em meio à avalanche de defensivismo é o River Plate.
Ontem, contra a LDU, o River Plate jogou no mais legítimo 4-3-3. E com uma formação de meio-campo muito parecida com a do Napoli. Não há um desenho de triângulo, como no sistema original. Os meias posicionam-se alinhados, logo à frente do quarteto defensivo. Logo não. Muito à frente.
Dessa forma, o River Plate abre a articulação pelos lados. Conta com o apoio dos laterais e de seus meias que atuam lateralizados. As duas duplas se aproximam dos atacantes. Formam triangulações ofensivas muito incisivas, com constante movimentação, inversões, passagens em diagonal, sempre procurando espaços de forma inteligente. Vale lembrar que toda a teoria tática do futebol se baseia na ocupação de espaços. Faz bem este papel o River.
Na frente, o destaque é o corta-luz. O centroavante Puppo praticamente não toca na bola. Ele concretiza um pivô diferente. Recua, mas sem segurar a bola na parede. Passa boa parte do jogo fintando com o corpo, saindo da bola, abrindo as pernas para a passagem dos passes, sempre procurando beneficiar algum companheiro que faça a diagonal no espaço criado quando recuou trazendo um zagueiro. Foi ho show de corta-luzes. Perdi as contas, mas passou de dez.
Mas o River, com três atacantes muito avançados, três meias ofensivos, e laterais apoiadores, pratica este 4-3-3 corajoso às custas de muita abnegação. Os jogadores do River correm o tempo inteiro. Preocupam-se em, na transição da posse para a perda (contra-ataque adversário) reagrupar as linhas rapidamente. Compactar, tirar espaços, retornar ao posicionamento original.
No segundo tempo, muitos deles – exaustos – caíam vitimidos pelas cãibras. Foi uma atuação de exceção. Tática, pela postura ofensiva rara no futebol sul-americano. Técnica, pelas triangulações recheadas de corta-luzes, toques curtos, infiltrações com bola no chão, e física. Valeu a pena parar para assistir.
Vale lembrar que tem o jogo da volta, no Equador, e a LDU passa pelo saldo qualificado com um simples 1 a 0, depois de levar 2 a 1 do River no Centenário. Mas torcerei para que o pequeno time uruguaio resista à altitude e novamente seja corajoso.
*Por estar envolvido em várias atividades, não pude fazer anotações no jogo de ontem. Guardei tudo na memória. Portanto, se houver algum equívoco na numeração ou na disposição de algum atleta, conto com o auxílio de vocês para agregar informações ao debate.
Postado por Eduardo Cecconi